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O mote para a nossa conversa de hoje foi dado pelo artigo do Henrique Burnay, «Os problemas não acabaram», publicado no Diário de Notícias. A ideia principal é simples. Apesar de algumas boas notícias internacionais temos de refrear o nosso entusiasmo com a vitória de Joe Biden e os anúncios de uma vacina, entre outros. É na mouche.
Sem dúvida que precisávamos de boas notícias. Este ano de pandemia tem sido muito duro no nosso quotidiano, na saúde física e mental e na economia, entre tantas outras dimensões. Mas, como escreve o Henrique, «não se batam demasiadas palmas».
Em primeiro lugar, temos de olhar para os nossos parceiros do outro lado do Atlântico Norte. Passadas duas semanas desde as eleições o Partido Republicano continua de pedra e cal ao lado do Presidente Trump. É, de facto, triste olharmos para este Partido e vê-lo associado às tácticas de Donald Trump: não aceitar a derrota e lançar um manto de suspeição sobre o processo eleitoral. São poucos os republicanos que não alinham com esta tristeza democrática. Tendo em consideração que a eleição para os dois lugares da Geórgia no Senado só terá lugar no início de Janeiro diria que todo este ruído republicano irá continuar.
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Mas do lado de cá também há razões para preocupação. Perante um acordo europeu há dois países que de forma ostensiva o decidiram bloquear, a Polónia e a Hungria, aos quais se juntou a solidariedade da Eslovénia. O que une estes três governos? À superfície transparece uma veia populista, iliberal e admiradora de Donald Trump. Sem dúvida que cada país tem as suas idiossincrasias e como é evidente os três governos não são idênticos. Mas, tendo em conta as preocupações sérias em matéria de Estado de Direito na Hungria e na Polónia, diria que os próximos tempos vão ser difíceis. O dilema é óbvio: como negociar com interlocutores cujas reivindicações vão contra o cerne da identidade europeia? Como é que é possível chegar a um compromisso quando estamos a falar de liberdade de expressão, liberdade de imprensa ou a independência dos tribunais?
Por último, enquanto os cientistas se encontram numa corrida contra o tempo para encontrar uma vacina que nos ajude a debelar esta pandemia, vamos assistindo a um número crescente de pessoas que resistem à vacinação. Poderíamos pensar que é uma moda ou uma consequência temporária da descrença na ciência e no conhecimento científico preconizada por populistas como Trump ou Bolsonaro. Custa acreditar que uma das conquistas mais extraordinária das nossas sociedades - a erradicação de tantas doenças através da vacinação - seja seriamente questionada. Mas, assim é.
Em suma, a vitória de Biden e o anúncio de uma vacina são boas notícias. Não podemos é ser complacentes.
*A autora não segue as normas do novo acordo ortográfico