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Há uma velha e estúpida frase que se costuma dizer, normalmente como piada: «não faltes ao trabalho, porque se faltares talvez o chefe perceba que não fazes falta nenhuma». Uma outra máxima da (boa) gestão, explica que quando alguém sai, tem de ser imediatamente substituído. Se assim não for, a «organização» acaba por assumir que, afinal, aquela função é dispensável, pode ser atribuída a outrem ou, no limite, nunca deveria ter existido.
Ao extinguir - o argumento jurídico formal de que não há extinção apenas colhe para os juristas e formalistas - a Secretaria de Estado da Agricultura, o Primeiro-Ministro vem dizer ao pais que a função, o cargo, o encargo, afinal, não é necessário. Que ter um «ajudante de ministros», como lhes chamava Cavaco Silva, para o setor da agricultura não faz sentido. Que as questões que deveriam ser tratadas por quem esteve nomeado, durante 24 horas, podem perfeitamente ficar, afinal ao encargo da ministra.
Além de ser um sinal errado que é dado ao pais e ao próprio governo, ficamos, hoje, com a legitimidade de perguntar ao Primeiro-Ministro quantas mais secretarias de Estado poderiam ser extintas - ou deixarem de existir, conforme a narrativa que se queira desenvolver. Quantos membros a menos poderia ter este governo, se fosse seguido o exemplo que acaba de ser dado com o Ministério da Agricultura. E, já agora, quanto deixa de custar haver menos um gabinete ministerial, com os funcionários e meios que lhe estão alocados.
Quando haver ou não haver uma secretaria de Estado - que não é política, como é um adjunto do primeiro-ministro, ou um dos assuntos parlamentares, ou da presidência do Conselho de Ministros - não faz nenhuma diferença e, ainda por cima, o tema é tratado como se nada fosse, a maioria absolutamente inequívoca perdeu a noção.