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A oposição colou o rótulo de "empobrecimento" ao governo PS, já o Executivo colou a ausência de alternativas à Oposição. No debate do Estado da Nação, esta semana no Parlamento, ouvimos um atirar de culpas constante, durante cinco horas, quando, na verdade, o que interessa aos portugueses é o futuro e não o passado. Que país vão ter os cidadãos até ao final da legislatura? A pergunta ficou sem respostas concretas.
Podemos olhar para o copo, que representa o país, e vê-lo meio cheio ou meio vazio. O Governo considera que está cheio e de boas notícias. Se atendermos aos factos, o país regista crescimento do produto interno bruto (PIB), o emprego está a aumentar, as exportações estão de vento em popa e tocam os 50% do PIB e a inflação mantém-se alta, mas a desacelerar, e o turismo cresce. É nos números da economia que o Executivo põe toda a narrativa.
No copo meio vazio está a corrupção e o estado da Justiça, a dificuldade no acesso aos serviços públicos, o retrato da saúde e da educação, o poder de compra a encolher, as taxas de juro no crédito à habitação a subir, um salário médio cada vez mais próximo do salário mínimo, a falta de um país atractivo capaz de reter os mais jovens, os elevados impostos sobre o rendimento dos trabalhadores e a escassez de habitação.
O primeiro-ministro não hesita em afirmar que Portugal está melhor. A oposição diz o contrário, as sondagens também. Esta semana, barómetro da Aximage para DN, JN e TSF apontava a desilusão dos eleitores para com a maioria absoluta: 59% dos inquiridos deram avaliação negativa ao Executivo.
Por áreas, os participantes deram nota pior às pastas da habitação, educação, economia e saúde. Ainda assim, a mesma sondagem apontava que a maioria dos participantes deseja que a legislatura chegue até ao fim e refere que o PSD não está pronto para governar.
Num segundo barómetro os inquiridos apontaram a principal figura da oposição ao governo: em primeiro lugar, André Ventura, e em segundo lugar, Luís Montenegro.
O país vive um estranho momento político e social, em que reina o descontentamento, mas a hipótese de mudança parece criar mais insegurança do que os casos e casinhos ou uma carteira mais vazia.
Por agora, o Parlamento fecha portas e os portugueses vão a banhos, mas não todos, porque há, pelo menos, cinco greves e uma manifestação das forças de segurança agendadas para agosto, em plena Jornada Mundial da Juventude. Este ano, a silly season está ameaçada.