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O campeonato vai ter de esperar mais um pouco, porque primeiro é preciso saber quem leva a Taça da Liga. O Braga e Ruben Amorim querem repetir a conquista da época passada, mas agora com uma diferença substancial: o treinador quer o troféu para o Sporting.
Leiria vai ser o palco da decisão num duelo cujo desfecho é imprevisível. É mesmo um dos tais jogos em que o clássico 50/50 deve ser levado à letra, pois, à luz do que as meias-finais mostraram, tanto Amorim como Carlos Carvalhal sabem como aplicar o chavão segundo qual as finais não são para jogar, mas sim para ganhar. Isto não significa que abdiquem de tentar um bom futebol, mas sim que sabem ser calculistas - e incisivos - se o andamento da partida assim o determinar.
FC Porto e Benfica ficaram pelo caminho sem conseguirem afirmar os seus méritos, que os tiveram, mas acabando por sucumbir perante a eficácia dos antagonistas que souberam não falhar nos momentos em que tal foi crucial.
Assim, a Taça da Liga vai terminar a sua caminhada esta época, uma temporada em que, com todo o sentido, se questionou se deveria ter-se realizado. Fica a ideia que se efetuou porque "tinha que ser", a Liga inventou uma fórmula para garantir uma "final four" com as quatro equipas mais fortes do campeonato e, pronto, assunto encerrado.
Enfim, mais ou menos. É que estes jogos ajudaram a alimentar a enxurrada de desafios no mês de janeiro, obrigando a que as jornadas do campeonato ficassem quase coladas umas às outras, aliadas ainda por cima a mais uma eliminatória da Taça de Portugal.
Como se isto não bastasse, janeiro tornou-se no pior momento da pandemia em Portugal, até agora. E o futebol - mesmo com o controlo extremo que outras áreas da sociedade não podem ter - também não escapou à nova e violenta vaga da Covid-19.
É verdade que o facto de Benfica e FC Porto serem, nesta altura, as duas equipas com mais baixas entre os jogadores, fez com que as atenções se centrassem no futebol como não tinha sucedido antes. Quando chega aos grandes os holofotes acendem-se, como já tinha sucedido no período em que o Sporting se refugiou no Algarve com Ruben Amorim a orientar as coisas à distância. Isto apesar de muitas equipas terem passado por situações complicadas desde o início da temporada (lembram-se do Gil Vicente logo na primeira jornada?).
A questão é que a pandemia assume aqui um papel que pode ser importante numa fase de clarificação da época no que respeita à luta pelo título e pelos lugares europeus, principalmente as posições Champions.
As maiores dores de cabeça, claro, cabem aos treinadores. É, certamente, uma vida difícil tentar desenhar um plano que, em cima da hora, tem de ser alterado com as consequências que daí advêm. Jorge Jesus tem oito jogadores de fora (e sabe-se lá amanhã se não serão mais), Sérgio Conceição tem seis jogadores de fora (e sabe-se lá amanhã se não serão mais), pelo que ninguém pode garantir que os onzes idealizados para defrontar Nacional e Farense serão exatamente aqueles que ambos os técnicos vão utilizar.
A questão é que todos os clubes aceitaram o risco. Só há campeonato porque existe um protocolo com a DGS com regras claras sobre o funcionamento durante a pandemia (sendo que, em situações limite, a última palavra cabe, naturalmente, às autoridades de saúde). Os clubes precisam da competição, pois sem ela não há receitas das transmissões televisivas e sem estas receitas grande parte deles, pura e simplesmente, afundava-se. E mesmo os maiores ficariam a penar vários anos.
Assim, temos de perceber que esta é uma época com uma distorção adicional - e, já se percebeu, vai manter-se desta maneira até ao final - em que a realidade não é comparável com qualquer campeonato realizado. Nem com o anterior.
Numa altura em que o país vive um cenário muito preocupante, a única coisa que se pede aos agentes do futebol é que tenham um cuidado acrescido de cada vez que a Covid-19 vem a discussão. Não se pode lidar com um tema tão sério da mesma forma como se discute o penálti, o fora de jogo ou o cartão vermelho. Não é difícil entender que são coisas (mesmo) muito diferentes.
Do mesmo modo que se dispensam episódios tristes como o dos falsos positivos em que não joga quem, afinal, podia jogar. Já chega este pesadelo coletivo no qual estamos todos mergulhados.