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É tempo de encerrar a época. Compete, como manda a tradição, à Taça de Portugal colocar um ponto final numa temporada como nunca tínhamos vivido e, espera-se, nunca mais tenhamos de viver. A designada festa do futebol, desta vez entre Benfica e Braga, só será seguida pelos adeptos através da TV, porque o vazio nas bancadas vai manter-se até no último desafio. Que seja uma final empolgante. Pelo menos isto.
Este é um troféu particularmente apetecível, sobretudo para quem viu o campeonato correr-lhe ao contrário do que desejava. Sendo mais preocupante a carreira do Benfica do que a do Braga, obviamente.
Os minhotos terminaram no quarto lugar, nada que surpreenda - e que não deslustra, acrescente-se -, embora a dada altura tenham andado nos lugares de acesso à Champions a discutir uma posição que seria sempre uma mais-valia caso a tivessem conservado. De qualquer modo, não vem mal ao mundo pela entrada direta na fase de grupos da Liga Europa. Além do mais, o Braga também esteve na final da Taça da Liga.
O caso das águias é muito diferente. Fazer um investimento no plantel como nunca se vira, contratar o treinador mais caro da Liga portuguesa - que logo assegurou que a equipa iria jogar o triplo e "arrasar" - e, depois disto, não conseguir entrar na Liga dos Campeões, não chegar sequer à final da Taça da Liga e concluir o campeonato no terceiro lugar é, de facto, uma sucessão de desaires muito penalizadora.
Portanto, para Jorge Jesus esta Taça de Portugal é a última hipótese de concluir a época com algo que se veja. Não como prémio de consolação - os vários objetivos falhados não se apagam -, mas como uma forma de demonstrar que a aposta de Luis Filipe Vieira não foi totalmente fracassada. Terminar a temporada sem nada seria passar do desastre ao fiasco absoluto.
É, portanto, neste quadro que os dois técnicos olham para a final da Coimbra, percebendo-se facilmente que Jesus tem muito mais em causa do que Carlos Carvalhal. Ou, se quiserem, que o grau de exigência ao técnico do Benfica é muito superior àquele que se aplica ao do Braga.
A última jornada do campeonato não deu para decalcar as soluções de cada um dos lados para a decisão de Coimbra, mas - pelas alterações introduzidas - acaba indiretamente por ajudar a tirar conclusões sobre os trunfos que cada equipa vai apresentar. Tanto um técnico como o outro, uma vez que as suas equipas tinham as classificações definidas, optaram por uma gestão dos recursos humanos assumidamente a pensar na final. Porque ambos querem ir com os melhores.
Mesmo assim, tal já não irá acontecer com o Benfica devido à lesão de Lucas Veríssimo na partida de Guimarães, ele que é o melhor central da equipa encarnada. É a verdadeira dor de cabeça de Jorge Jesus que tinha equacionado a utilização de três centrais, mas que, assim, terá provavelmente de regressar a uma linha de quatro.
É verdade que Weigl poderia ser uma opção para alinhar com Vertonghen e Otamendi, deixando espaço aberto para Pizzi ou Gabriel se juntarem a Taarabt no meio campo. No entanto, a probabilidade de retornar a um 4x4x2 é maior (tal como fez frente aos arsenalistas na primeira volta do campeonato), algo que o próprio treinador não contestou.
Quem investiu tudo nesta partida decisiva foi Carlos Carvalhal. Foi a Portimão deixando fora do onze seis dos (muito) prováveis titulares e mesmo os outros cinco (Al Musrati, Sequeira, Ricardo Horta, Fransérgio e Galeno) só jogaram meia parte cada um. O técnico minhoto sabe que esta é uma oportunidade única (aliás, a única) para terminar a temporada com um troféu, depois de ter perdido a Taça da Liga para o Sporting. Para o Braga constituiria um fecho em beleza numa época em que ameaçou os três grandes. Pelo menos durante algum tempo...
Pena é, como referi no início, que ninguém possa assistir ao vivo a esta partida. Confesso que fazia parte dos que (ingenuamente) admitiam que, quanto mais não fosse pela carga simbólica que traria, fosse autorizada a presença de um número limitado de espetadores. Afinal, não. Mas sobre a gestão errática da presença de público em eventos desportivos já não adianta acrescentar o que quer que seja...