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Nas vésperas do Natal e Ano Novo, é tempo de balanços. Após mais um ano de dificuldades e árduo trabalho, os portugueses fazem contas à vida. Estão mais pobres, com menos acesso aos serviços de saúde, com maior dificuldade de acesso à justiça, com inferior qualidade e previsibilidade em matéria de ensino público e estão mais crispados.
Nos próximos dias, o país viverá uma paz social momentânea, apenas por conveniência das Festas, mas em janeiro as ruas poderão voltar a encher-se de protestos e manifestações.
Os dados económicos, que o governo tem propagandeado, não se sentem nas carteiras das famílias. Este Natal, os portugueses vão pagar o dobro do preço pelo azeite, os ovos duplicaram de valor e o bacalhau também voltou a disparar, segundo a DECO. Já para não falar no pão que subiu dois dígitos desde 2022 (14% só no ano passado) e vai voltar a ficar mais caro em 2024 devido aos custos de produção, alertou ontem a Associação do Comércio e da Indústria da Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP).
Vão ser precisos nervos de aço para sentar à mesa a família na ceia de Natal e, por uma noite, esquecer o custo de vida. Vão ser precisos nervos de aço para brindar ao Ano Novo e ignorar, por umas horas, as previsões políticas e económicas sobre o que aí vem.
Comecemos por Portugal: com eleições em março, o país está dividido entre a hipótese de uma geringonça de esquerda ou de direita e com a forte possibilidade de um crescimento da extrema-direita nas urnas. Na economia, apesar da previsão de fechar o ano de 2023 com um crescimento de 2,2%, para o ano essa estimativa cai para uns míseros 1,3%.
Vamos à Europa: na política, as coligações avançam em quase todas as geografias e com um elemento em comum: o crescimento da extrema-direita dispara e lança preocupações e acorda fantasmas adormecidos desde a Segunda Guerra Mundial. Na economia, se olharmos apenas para a zona euro, o crescimento não irá além de 1,2% em 2024.
Nesta época de festas, aos portugueses recomenda-se uma receita sem pitada de pessimismo e sem colherada de otimismo irritante. O melhor é mesmo optar por um menu que combine pragmatismo com realismo para que, com jogo de cintura, se salvem as contas e as vidas das famílias. E mesmo quando tudo desaba à volta de cada português, é preciso acreditar no ditado popular: ´depois da tempestade, vem a bonança".
Boas festas!