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Quando Lula foi eleito presidente do Brasil pela primeira vez, o mundo estava de olhos postos naquele operário, sindicalista, lutador, um homem que sabia como custa a vida. O Brasil, esse país do tamanho de um continente, acabava de eleger não um "grã-fino", mas um de entre os seus iguais.
Lula não desiludiu. Dentro de portas, lutou por três refeições por dia para os mais pobres. Fora de casa, fazia discursos que eram escutados e aplaudidos. Tornou-se um ícone, um símbolo, com as suas palavras sábias de solidariedade, compreensão com o outro, da necessidade do mundo se olhar ao espelho e se tornar um lugar melhor.
Foi, claro, reeleito.
E aconteceu o que se sabe, porque o poder inebria, e as grandes empresas não têm amigos nem ideologia. Estão sempre do lado do poder, seja ele qual for. Neste caso, podia usar-se o velho ditado popular português, com uma ligeira adaptação: "Inimigos, inimigos, negócios à parte." São sempre os negócios.
Na segunda vida de Lula Presidente, a coisa começou logo mal. Diante de um país partido a meio, com uma divisão ideológica nunca antes vista e uma polarização e radicalização bem expressa nas urnas, logo na posse, Lula não fez o que dele se esperava. Não fez o discurso da reconciliação, da unidade e da tolerância. Pelo contrário. Prometeu perseguir o adversário, com um ódio que se lhe escapava pelos cantos da boca. Não soube ganhar, não vestiu o "terno" de presidente, mas apenas de líder de fação.
E, depois do isolamento internacional a que Bolsonaro condenara o Brasil, Lula começou a viajar para recuperar o tempo perdido.
Só que, este Lula, não é o mesmo. É uma cópia desgastada e teimosa, uma réplica obsessiva e desastrada, um presidente que acha que pode tudo, uma vez que, como também disse no discurso de vitória, ressuscitou da morte política e ganhou eleições.
Se a vinda de Lula a Portugal e a trapalhada criada por Governo e Presidente sobre a presença na Assembleia da República, a 25 de Abril, já não auguravam nada de bom, as declarações desta semana sobre a guerra na Ucrânia, com argumentos decalcados dos que são utilizados por Moscovo, são absolutamente desastradas, perigosas, irrealistas e, sobretudo, erradas.
Nenhum alinhamento ideológico, por mais fiel que seja, pode levar a que se transforme a realidade dos factos. E que se perca a noção da realidade e deixe de se saber distinguir quem é o agredido e quem é o agressor. Quem invadiu e quem foi invadido. Quem ocupou e quem foi ocupado. Quem ataca e quem se tenta defender.
Lula não deveria ter voltado a um lugar onde foi feliz.
