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Daqui por uma semana, mais precisamente na próxima 6.ª feira, alguns órgãos de comunicação social divulgarão os rankings das escolas de 2022 que nos querem "vender", numa nomeação tão iníqua quão reducionista, resultando numa vulgar tabela classificativa e hierárquica por referência (apenas!!) às classificações obtidas nos exames nacionais.
As prestações de alunos em provas com existência num determinado período de um certo dia, previamente agendado, ditarão a graduação das escolas, olvidando todo um trabalho hercúleo realizado por muitos docentes e discentes durante largos meses, comparando simplisticamente resultados de escolas do interior com as do litoral, das do norte com as do sul, das do público com as do privado, entre outras variáveis com ponderação questionável.
Pese embora ainda no desconhecimento, estes "pseudo rankings", baseando-me no histórico desta iniciativa, terão como objetivo único dirigir o foco das atenções na inevitável comparação entre o ensino público e o privado.
E sabemos o quão injusto e nefasto esta prática é!
Em defesa da verdade, aponto dois fatores essenciais a ter em consideração:
(i) o efeito das explicações, que se revela fundamental, uma vez que contribui para uma clivagem notória entre alunos, com repercussões muito favoráveis para aqueles que beneficiam do poder financeiro dos pais e encarregados de educação;
(ii) o contexto socioeconómico onde se situa a escola é, sem dúvida, determinante no aproveitamento e comportamento dos alunos e, neste sentido, nos resultados obtidos nas provas e exames.
O trabalho diário nas escolas públicas é realizado com todos e para todos. E, nesta lógica de pensar e agir, no ensino secundário as práticas são operacionalizadas, semana a semana, de forma sistemática e personalizada, compreendendo os potenciais e os interesses de cada aluno, recusando-se o treino exclusivo (só) para os penalties, em prol de aprendizagens integrais e diferenciadoras conducentes à obtenção do sucesso coletivo, seja no ensino superior ou na inserção do mundo do trabalho.
Talvez por isso é comummente aceite que os alunos provenientes do ensino público concluem o superior em menos anos e com melhores classificações. A bagagem adquirida nos anos que antecedem o acesso ao superior é decisiva para enfrentarem com as competências necessárias os anos subsequente, sendo-lhes dadas asas para voar e chegar o mais alto possível.
Mas afinal, para além dos media, a quem interessa a construção e divulgação desta listagem?
Desconfio que se reveste útil apenas para satisfazer certa vaidade institucional e instituída, sendo certo que, sejamos justos, colocar as suas escolas nos lugares cimeiros não é mais que a sua obrigação, na esmagadora maioria dos casos.
Seria honesto e razoável destacar as escolas que, mau grado terem reais e graves condicionalismos, conseguem afirmar-se como elevador social para muitos dos seus jovens, auxiliando-os a potencializar as suas capacidades emergentes, a serem empreendedores e resilientes, principalmente os que provêm das classes economicamente mais fragilizadas e depauperadas.
As escolas, na sua singularidade, ensinam a verdade, afastando as vaidades e a competição ilusória, tanto individuais como coletivas, pois pretendem dotar os seus alunos de valores humanos, as ferramentas importantes para enfrentarem os desafios da Vida.
Continuemos a trabalhar com o habitual empenho na Educação de todos, sem exceção ou demagogias, não aceitando que se menospreze ou ostracize magníficos profissionais que dão tudo pelo que acreditam - a inclusão, a educabilidade, a equidade, o acesso às aprendizagens essenciais e transversais para todos os seus discentes.
Prestes a terminar mais um ano letivo (dos mais sui generis que vivi), endereço os parabéns a todos os docentes (mas também a todos os não docentes) pelo empenho dedicado à profissão mais bela do mundo.