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O candidato republicano à Casa Branca decidiu fazer um comício pós eleitoral a partir do púlpito de onde fala na Casa Branca o presidente dos Estados Unidos. Atualmente ainda são a mesma pessoa, mas não perceber que há locais próprios para fazer determinados discursos é também uma evidência de que isto não é bem um presidente dos EUA como reza o título do livro do meu amigo Germano Almeida.
Donald Trump fez um discurso que deve envergonhar os republicanos moderados, se ainda existirem. John McCain, com o seu patriótico discurso de aceitação de derrota para Barack Obama em 2008, deve estar a dar voltas no túmulo.
Acusações de fraude, um tom de desespero, invoca as "razões de supressão". Supressão é palavra que o presidente dos Estados Unidos deveria ter pudor em usar por tudo o que foi desenvolvido pelo campo político republicano para suprimir ou condicionar o direito ao voto (nomeadamente de imigrantes e minorias).
É quase risível quando o presidente que aprovou leis migratórias extremamente restritivas, que autorizou ou ordenou que fossem separadas crianças das famílias nas fronteiras colocando-as em jaulas, vem agora dizer que o partido republicano "é o partido da inclusão"...
Ele diz que vai acabar tudo no Supremo. Provavelmente. Os recursos, a possibilidade de litigar judicialmente, são mecanismos dos regimes democráticos; é normal, faz parte da vivência em democracia. Podemos até admitir que o partido democrata faria o mesmo, fosse o quadro o inverso. Mas o que Trump fez - voltou a fazer - ontem à noite foi desinformação intencional e deliberada.
Mas uma coisa é certa e sem ironia, porque tudo isto é triste na mais importante democracia do mundo, porque ainda definidora de modelos para muitos. Sem ironia digo que - a confirmar-se a vantagem e consequente vitória de Biden - falta apenas saber qual a unidade do FBI que vai ter de ir à Casa Branca dizer ao homem que ainda lá manda, que tem de sair.
Há 20 anos e 1 mês, vi em Belgrado os sérvios livrarem-se de Slobodan Milosević, - teve de ser à força - com um slogan de duas palavras que em português se traduz para uma, Gotov Je: "Acabou".