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Daniel Oliveira considera que o futuro do conflito na Ucrânia "parece jogar-se cada vez mais fora do campo de batalha, em Moscovo e em Washington".
No habitual espaço de opinião da TSF, o comentador começa por apresentar um Presidente russo pós humilhação imposta por Prigozhin: "Putin é um líder muito mais frágil, liderando um regime que, em plena guerra, foi desafiado e parece poder ser derrubado. Não como gostaríamos pelas forças democráticas, mas pelos reforçados setores ultranacionalistas, defensores de uma linha ainda mais brutal para a Ucrânia."
"Mas é nos Estados Unidos e na possível instabilidade causada pelas presidenciais do próximo ano que muito se joga", acrescenta, explicando que Donald Trump continua a ser "o favorito" que defende uma "alteração radical da política para a Ucrânia".
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O que é que Putin tem então de fazer para garantir a sobrevivência? "Só tem de manter o esforço de guerra" e conseguir a reeleição do candidato republicano. Mas "este não é um pequeno "só"", sublinha Daniel Oliveira.
"Tem razões para um otimismo moderado: 70 congressistas republicanos apresentaram e votaram este ano uma emenda ao orçamento militar do Pentágono que defendia a suspensão imediata de toda e qualquer medida de assistência militar à Ucrânia. É verdade que a derrota foi esmagadora, com 358 votos contra 70, mas daqui a um ano e meio, quando forem as presidenciais, as coisas podem estar muito diferentes. Os republicanos mais radicais alinhados com Donald Trump vão associar a pesada fatura financeira dos Estados Unidos no conflito às dificuldades sentidas pelos americanos com a inflação e o aumento da despesa pública. É um filão que tem tudo para pegar num país onde muitos nem saberão onde fica ao certo a Ucrânia", afirma.
No total, o apoio dos Estados Unidos é superior ao apoio de todos os países europeus. E "sendo a guerra na Europa, as opiniões públicas também são mais resistentes", comenta Daniel Oliveira.
Segundo o jornalista, o Presidente ucraniano "sabe que depende cada vez mais de terceiros" e "sabe que as opiniões públicas se aborrecem com conflitos prolongados".
Zelensky precisa de vitórias para manter a ideia de vitória, fundamental para países que investem dezenas de milhares de milhões de euros na defesa da integridade territorial da Ucrânia e para manter o interesse das opiniões públicas ocidentais.
Mas, "não é tudo marketing, como é óbvio", alerta.
"A Ucrânia está mesmo a tentar libertar partes significativas do seu território, mas sabia que ia encontrar uma vasta linha de defesa fortificadas e que o exército russo foi aprendendo com os seus erros iniciais. Sabia da sua desvantagem em munições e em poder de fogo. O recente e polémico anúncio de envio de bombas de fragmentação, recusadas pelas esmagadora maioria dos países, mas não por Estados Unidos, Rússia e Ucrânia, resulta da incapacidade do complexo industrial ocidental em repor o nível de munições para artilharia usada no terreno."
Daniel Oliveira acredita que a NATO confiou que as guerras se ganhavam pela vantagem tecnológica, algo que apenas era verdade na Bósnia, na Líbia, no Iraque ou no Afeganistão, e "mesmo assim, sabe-se com que custo", sublinha.
O comentador acrescenta que tudo tem sido "lutas de Golias contra Davi" e que a desproporção ao nível de armamento entre a Rússia e a Ucrânia "continua a ser enorme".
Quase todo o futuro da Ucrânia, se joga fora da Ucrânia, como sempre, aliás
"Zelenski sabe que o futuro do seu país se decide mais no futuro político de Biden e Putin do que no campo de batalha. Se de um lado ou do outro, se começar a sentir que os protagonistas podem mudar, a guerra vai acelerar para chegar a uma vitória de um dos lados, muitíssimo improvável a curto-médio prazo, ou com um acordo de paz com ou sem congelamento do conflito", conclui.