Para quando um sistema de aviso às populações em situações de emergência?
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De furacão, o Leslie abateu-se sobre Portugal no passado fim de semana, já como tempestade tropical. E, com ele, chuvas torrenciais e ventos na ordem dos 190km/h. Algo nunca visto até então.
190km/h bem pode ser um Maserati em ritmo de passeio, mas se tempestade tropical, já estamos a falar de desastre certo.
A região de Lisboa estava na rota do monstro. A capital de Portugal, vulnerável a frente oceânica, não fosse a cidade a proa da nossa jangada de pedra.
Mas o Santo Padroeiro da cidade branca estava de prevenção naquela noite, ao contrário de outros, e a rota do Leslie seguiu a norte do Tejo.
Quando todos respirávamos de alívio pelo fim da época de incêndios, justamente na semana em que se assinalou um ano do maior incêndio de sempre em Portugal, e com feridas ainda por curar, voltamos a deparar-nos com as nossas fragilidades.
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Se o furação Ophelia, em 2017, encontrou um Portugal em pleno verão tardio, ainda a mastigar as lições de Pedrógão, um país em choque, despreparado e impotente, a tempestade tropical Leslie veio dar um último aviso: a necessidade de um eficaz sistema de aviso às populações em situações de emergência.
O IPMA esteve novamente bem. A sociedade civil esteve muito bem.
Já começa a ser recorrente serem os cidadãos, pelas mais diversas vias, a encontrarem soluções para as emergências, não fossemos um país de excelentes engenheiros informáticos, empreendedores, engenhocas, 'gamers' e não só.
Dois bons exemplo a destacar na noite de sábado para domingo: O primeiro exercício nacional de radiocomunicação cidadãs, demonstrando a sua total eficiência. Para quem não sabe, o 'citizen band' é o último recurso do cidadão comum em caso de pane total dos outros meios de comunicação.
Mas enquanto houver rede de comunicação terrestre ou digital, o segundo bom exemplo foi os VOST - Voluntários Digitais em Situações de Emergência, que, através de uma conta no Twitter, fizeram "aquilo que a Proteção Civil devia fazer".
O VOST não fez apenas mais, fez muito melhor. Comunicou. Comunicou com o cidadão comum em diálogo aberto e em tempo real, descodificou a informação de forma apelativa, muito "na ótica do utilizador", e - a função mais importante - conseguiru ajudar quem desesperava para saber se os familiares, em zonas sem comunicações, se encontravam bem. É aqui que entraria na perfeição o 'citizen band'.
A palavra de ordem aqui é "em tempo real". Senão, de nada valerá falar em socorro às populações, mas sim em "catar cacos", para não dizer pior.