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A nova magistratura de influência do Presidente da República está na forma como, no discurso da tomada de posse do Governo, amarrou o primeiro-ministro aos compromissos que ele próprio foi tecendo. Cortando pela raiz a tentação de deixar o mandato a meio do caminho.
Marcelo recordou os compromissos ao país, quando António Costa disse que só havia dois rostos, o dele ou o de Rui Rio, para governar e a escolha dos portugueses foi para um ciclo de quatro anos. E lembrou a vigilância ativa de Belém face a eventuais desvios de maioria absoluta para poder absoluto.
A nova cooperação entre palácios passa também pelas metas que Marcelo traçou, desde as reformas na Saúde e na Justiça, às necessárias políticas de coesão social e administrativas, ou à revisão da lei eleitoral. Tão pouco tempo para tantas mudanças, admitiu Marcelo.
Sucede que tendo os instrumentos políticos, numa maioria conquistada a meio de um já longo ciclo de poder, António Costa inicia o mandato num contexto profundamente desfavorável, com uma guerra na Europa a agravar o costo de vida dos portugueses e as estratégias definidas há meia dúzia de dias a terem de ser repensadas.
Não por acaso, faltaram ao primeiro-ministro compromissos e metas claras sobre as ambições da governação, num Executivo com caras novas e uma orgânica aparentemente mais ágil, mas com uma concentração excessiva de pastas na sua esfera.
Sendo os tempos de hoje tão diferentes, não deixa de ser pouco entusiasmante que a primeira medida seja a aprovação de um Orçamento do Estado que já leva mais de cinco meses no bolor e num momento em que as respostas face aos desafios deveriam ser forçosamente diferentes. E quando, como o próprio primeiro-ministro admitiu, este Governo não vai ter tempo para estados de graça.