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Faltam cinco dias e está a chegar a altura dos argumentos finais das duas candidaturas.
Não podiam ser mais diferentes: do lado republicano, Trump insiste na ideia “Kamala estragou, eu vou arranjar”. Nos comícios de Donald, a letras gigantes aparece: “Better off with Trump” – estavam melhor com Trump. Do lado democrata, o principal argumento continua a ser: Trump é horrível, não tem ética para voltar a ser Presidente. Como, geralmente, uma mensagem positiva tem mais capacidade mobilizadora que uma negativa, isso pode indicar que Trump acha que está à frente e Kamala acha que está atrás. Kamala insiste na dualidade: "Com Trump escolhem o medo, a divisão, o ódio, o ressentimento; connosco escolhem o estado de direito, a construção, a união, a harmonia."
Quase 60 milhões de norte-americanos já votaram antecipadamente. 41% deles são registados democratas, 40% republicanos, 19% sem partido. Olhemos para os sete estados decisivos: Kamala Harris tem para já vantagem na Rust Belt, ou pelo menos bons indicadores nesse sentido; Donald Trump parece ter boas razões para acreditar na vitória no Sun Belt
Michelle Obama "um pouco zangada" com a hesitação masculina em votar Kamala
Muitos sonharam com a sua candidatura presidencial, mas ela disse sempre que não. Michelle Obama, que recusou sempre cargos políticos eletivos, já tinha estado na Convenção Democrata, optando desta vez por um discurso menos de "when they go low, we go high" e mais de apelo à luta. Desta vez, assume receios sobre o que se irá passar na eleição. A primeira dama dos EUA entre 2009 e 2017 assumiu-se "um pouco zangada" com as hesitações, sobretudo masculinas, em decidir-se por Kamala Harris, perante um Trump "errático". "Um voto nele é um voto contra nós". Michelle pede “a vitória da empatia”. As sondagens mostram que a disputa está extremamente acirrada em estados indecisos como Michigan, e os democratas – incluindo o ex-presidente Barack Obama – têm trabalhado urgentemente para reforçar o entusiasmo por Harris entre os homens negros, os eleitores jovens e outras partes da base democrata. Também por isso Kamala apostou na área de Filadélfia com uma série de eventos de campanha visando coligações importantes, concentrando-se nos bairros negros e latinos. Esteve numa igreja negra no oeste de Filadélfia e visitou jovens negros numa barbearia.
"250 milhões de pessoas não são lixo"
Os democratas são conhecidos pela propensão de estragarem uma boa oportunidade quando a veem pela frente. A polémica sobre os porto-riquenhos, saída do sombrio comício de domingo à noite no Madison Square Garden, parecia uma grande ocasião para que a campanha de Kamala Harris fosse relançada, nestes dias finais, junto do voto latino. Só que Joe Biden, em evento de mobilização do voto latino (suprema ironia) pode ter estragado tudo: chamou "garbage" (lixo) a quem apoia Trump -- "Há porto-riquenhos no meu Estado natal, em Delaware. São pessoas boas e honradas. O único lixo que vejo lá são os apoiantes dele". Terá sido uma falha de rigor linguístico, já merece correção do Presidente e dos seus porta-vozes, mas é tarde para evitar o erro. Em vez de capitalizarem a indignação dos porto-riquenhos contra Trump, os democratas passaram os últimos dias a conter danos. Kamala proferiu frase que só pode ser encarada como uma demarcação de Biden: "Discordo veementemente de qualquer crítica às pessoas com base em quem elas votam". Vai isto, na história da reta final da campanha, o equivalente ao "basket of deplorables" (cesto de deploráveis) referido por Hillary em 2016? Pelo menos, abriu espaço a que Trump recuperasse o controlo da narrativa: "A América não pode ser liderado por quem não ama os americanos. (...) 250 milhões de pessoas não são lixo. Posso dizer-vos qual é o verdadeiro lixo, mas não vamos dizer isso."
Os estados decisivos por importância nos grandes eleitores
Se parece consensual considerar que há sete estados em aberto (mesmo estando Minnesota, New Hampshire e Virgínia a reduzirem na diferença de Kamala sobre Trump e mesmo que Florida e Texas tendam a poder voltar a ser democratas nos próximos ciclos eleitorais), vale a pena ver quanto vale cada um. A Pensilvânia é a maior: tem 13 milhões de pessoas e vale 19 Grandes Eleitores; a Geórgia tem 11 milhões e 16 Grandes Eleitores. Seguem-se a Carolina do Norte, com 10,4 milhões de habitantes e vale 15 votos eleitorais e o Michigan com dimensão quase igual: 10 milhões de habitantes e 16 grandes eleitores. O Arizona tem 7,2 milhões, o que lhe garante 11 grandes eleitores. O Wisconsin tem 5,9 milhões de habitantes e 10 grandes eleitores. Finalmente, o mais pequeno dos sete, é o Nevada: 3,1 milhões, com apenas 6 grandes eleitores. Somados, estes sete estados (14% dos 50) representam 17% do Colégio Eleitoral (93 em 538). E, sim, têm o futuro dos EUA e de boa parte das grandes questões mundiais na mão. Já nos próximos dias.