América: Hora da Verdade. Trump tem o “momentum”, Kamala precisa da mobilização
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Em que ponto estamos, a menos de duas semanas da grande decisão? Kamala precisa de ativar a base democrata tradicional (negros e latinos incluídos): se o fizer em grande escala, ganha. O problema está no voto masculino, sobretudo de negros e latinos, que neste momento ameaçam, numa parte significativa, optar por Trump. Kamala terá outro desafio: retomar a vantagem no voto suburbano branco, que há quatro anos deu vantagem a Biden.
Já do lado republicano, a questão estará mais na capacidade de levar às urnas eleitores de baixa qualificação e baixo rendimento. Por enquanto, Trump parece ter o “momentum”, sobretudo na Rust Belt, mas Kamala Harris tem ainda alguns dias para ativar a máquina do Partido Democrata, que pode ainda surpreender na reta final. O movimento MAGA é forte, mas não chega para vencer. A coligação democrata é maioritária, potencialmente superior, mas está com problemas de mobilização.
Kamala está a apostar nos republicanos que votaram em Nikki Haley – e com isso fez tour com Liz Cheney – e lança Julia Roberts no terreno de campanha. Bill Gates avança com 50 milhões de euros de apoio à candidatura de Kamala. Trump diz que Kamala tem um "QI baixo" e que Walz "é o homem mais estúpido" a concorrer às eleições.
Parece claro que, nos últimos dias, Trump ganhou pontos a Kamala nas sondagens. Mas fica a ideia de que, nesta reta final, a máquina democrata pode tirar proveito de ser mais profissional e mais organizada que a candidatura Trump, na forma como trabalha no terreno e como poderá mobilizar os votantes.
Obama todos os dias em campanha... Kamala não é Barack
O ex-Presidente Barack Obama tirou as luvas, arregaçou as mangas e está todos os dias no terreno de campanha a ajudar Kamala. No Arizona, durante o fim de semana, proclamou: "Somos um país de leis e somos um país de imigrantes." Anteontem esteve no Nevada, apelando ao "early vote". Obama, primeiro presidente negro, tem focado a necessidade de os homens negros não falharem a Kamala Harris - algo que as sondagens estão longe de poder assegurar. Michelle Obama entrará em campo no próximo sábado, dia em que, na Geórgia, Barack e Kamala estarão juntos pela primeira vez no terreno de campanha. O apoio dos Obama pode ajudar a mobilizar. Mas atenção: Kamala Harris não é Barack Obama. Os problemas de carisma da candidata continuam lá.
Kamala em modo crise: desespero ou última oportunidade?
Está decretada a emergência na campanha Kamala: a vantagem nas sondagens nacionais reduziu para metade, ou até menos, em menos de um mês. Nos estados decisivos, passou de pequena vantagem para pequena desvantagem, mas com a tendência quase diária de ir aumentando. A eleição ainda está em aberto, mas as hipóteses de Kamala estão a reduzir.
Na semana passada, de um dia para o outro, Nate Silver passou a dar mais probabilidade de vitória a Trump: 50,2% (no dia anterior era 49,3%). Em email para os seus apoiantes, Harriz e Walz lançaram o aviso: "Se as eleições fossem hoje, muito provavelmente perderíamos. Somos os "underdog". Já há vários estados onde a votação antecipada vai avançando. As sondagens estão estatisticamente empatadas nos estados decisivos. Temos que nos mobilizar. Ainda temos tempo". James Zirin, no “Washington Times”, aponta: “Como Kamala Harris ainda pode terminar forte contra Donald Trump: a vice-presidente, uma veterana procuradora, ainda tem tempo para um grande argumento final, mas Harris precisa aprimorar o seu caso perante o júri e ilustrar o perigo de um segundo mandato de Trump sem relitigar o passado”.
A carta de Trump é dizer que, quando era Presidente, a carteira dos americanos estava muito melhor que nos anos Biden. “Better off with Trump”, lê-se a letras gigantes nos comícios de Trump.
Menos brancos sem estudos, mais mulheres e mais jovens
Os eleitores brancos sem diploma universitário, a pedra angular da coligação republicana moderna, diminuíram um pouco mais de 2 pontos percentuais como percentagem de eleitores elegíveis desde 2020, caindo abaixo de 40% do grupo de votantes elegíveis pela primeira vez. Embora o número de brancos da classe trabalhadora esteja a diminuir, tanto os brancos com pelo menos quatro anos de diploma universitário quanto os eleitores negros aumentaram desde 2020 em cerca de um único ponto percentual como proporção de eleitores elegíveis. Esses aumentos também dão continuidade às tendências de longo prazo que têm visto os brancos com bom nível de escolaridade crescerem para representar mais de 1 em cada 4 eleitores elegíveis e as pessoas de cor ultrapassarem 1 em cada 3.
Isto ajuda-nos a compreender por que razão o antigo presidente se esforçou tanto para ir além da sua base tradicional de eleitores brancos sem formação universitária, para atrair mais eleitores negros e latinos, especialmente homens. Mas atenção: Trump pode compensar, na subida que está a conseguir nos eleitores latinos, especialmente os homens, os benefícios esperados para os democratas, à medida que os latinos aumentam a sua percentagem de votos, especialmente nos disputados Arizona e Nevada.
Trump atingiu um apoio nos brancos pouco qualificados só equiparável a Reagan, entre candidatos presidenciais republicanos. Mas entre 1984 e 2020, o peso deste segmento no total de votantes baixou tanto (de dois terços para dois quintos) que Trump obteve apenas cerca de 47% do total de votos em cada uma das suas duas campanhas, enquanto Reagan obteve quase 59%. Este segmento caiu mais, nos últimos quatro anos, no Michigan e Wisconsin do que na Pensilvânia, o que pode ajudar a explicar por que a Pensilvânia parece ser globalmente mais difícil para Kamala do que os outros dois estados.
Por género, as mulheres deverão representar quase 52% dos votantes elegíveis – e se forem em massa às urnas, isso poderá ser ainda, mas do total dos votantes. E isso podem ser boas notícias para Kamala, que tem entre 12 e 18 pontos de vantagem nesse segmento. De 2020 para 2024, a chamada Geração Z dará um grande salto na sua parcela de eleitores elegíveis, de cerca de 1 em cada 10 para mais de 1 em cada 6. Outra coisa é saber se este segmento etário aparecerá em números significativos nas urnas.