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Começo esta Opinião com uma chamada de atenção para uma entrevista do Ricardo Alexandre a uma das grandes analistas sobre a Europa Oriental: Anne Applebaum.
A entrevista disponível no site da TSF é excelente e dos vários pontos focados há um muito importante que quero destacar. Nas suas palavras:
"(...) quando os russos compreenderem que foi um erro, e que a era do Império acabou, tal como outrora os franceses compreenderam que a guerra na Argélia foi um erro, tal como os portugueses compreenderam outrora que já não havia necessidade de colónias em África, tal como os britânicos compreenderam outrora que precisavam de se retirar da Irlanda no início do século XX. Isto é, uma mudança mental que precisa de acontecer."
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Fiquei a pensar neste ponto e o quão é importante e, ao mesmo tempo, difícil. Se olharmos para a História temos muitos exemplos dessa dificuldade de adaptação de grandes potências ao fim do seu poder imperial: desde a Atenas da Grécia Antiga aos Otomanos cujo domínio e fim no pós-Primeira Guerra Mundial são, ainda hoje, cruciais para compreendermos a região a que chamamos Médio Oriente ou Ásia Ocidental e o papel da Turquia hoje.
Quando a Guerra começou a Rússia tinha dois grandes trunfos: gás natural e petróleo, por um lado, e o seu arsenal nuclear, por outro. No que toca à União Europeia a questão energética foi, de forma surpreendente, resolvida ou está a caminho de o ser. Resta o trunfo nuclear que, infelizmente, torna bem mais difícil a aprendizagem de que Anne Applebaum fala, ou seja, "de que a era do Império acabou".