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Os banqueiros reuniram-se esta semana para discutir o estado do setor financeiro em Portugal e o que se antevê para o próximo ano, numa iniciativa editorial do DN, Dinheiro Vivo e TSF.
Em 2022 já sabemos com o que contamos: alta inflação, subida das taxas de juro e, logo, do crédito à habitação, elevados custos com a energia, mas também proveitos (nalguns casos recorde) da banca. Quinta-feira foi a vez de a Caixa Geral de Depósitos apresentar os seus resultados, com lucros de 692 milhões até setembro e a intenção de distribuir o maior dividendo de sempre.
Os bancos garantem que arrumaram a casa nos últimos exercícios e que recuperam agora do impacto da pandemia.
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Agora, em plena guerra, os proveitos não ficaram imunes à inflação e aos juros - e subiram. E se, na covid-19, a economia sofreu de uma crise vinda do lado da oferta e da procura, agora a crise é sobretudo de oferta. São maleitas diferentes com efeitos distintos.
Os líderes do setor financeiro olham já com prudência para 2023, mas consideram que o ponto de partida em que estão é uma boa rampa de lançamento, sólida e capitalizada.
Aferir a expectativa dos banqueiros é relevante porque todos os dias, em contacto com famílias e empresas, tomam o pulso à economia real. Esperamos, todos, que saibam para onde sopra o vento e com que intensidade.
Para já, sopra com força sobre as famílias portuguesas que têm crédito à habitação e que sentem na pele a subida dos juros. O governo avançou neste mês com um diploma que obriga os bancos a renegociar os créditos de acordo com a taxa de esforço (reduzindo esse indicador de 50% para 36%), mas os banqueiros garantem que "não era necessária uma medida política, porque as regras já o ditam" e "os bancos não querem ficar com as casas de ninguém".
Ainda assim, a subida do crédito malparado não deixa de ser uma ameaça, conforme alertara recentemente o ex-governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio.
A gravidade da crise em 2023 vai depender da duração do conflito na Ucrânia, dizem em coro. Por isso, e enquanto Putin se ocupa numa guerra sem sentido, o que é necessário é vitaminar a economia através da aplicação, a tempo e horas, do PRR. Se isso não for feito, os portugueses poderão não perdoar o atraso e a oportunidade perdida.