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No dia em que se assinala um mês desde o ataque do Hamas que motivou uma escalada de violência no Médio Oriente, Daniel Oliveira lembra que "o conflito entre a Palestina e Israel não começou há um mês e não se resume à guerra entre Netanyahu e o Hamas, dois inimigos que sempre se acarinharam".
Este é, "na sua essência, um conflito entre dois povos por território e recursos", apesar de o "sionismo secular e de esquerda que fundou Israel e as suas Instituições" ter sido substituído por "um sionismo revisionista ou religioso", e o "nacionalismo árabe laico, multirreligioso e de esquerda" ter dado lugar "ao fundamentalismo Islâmico e criminoso do Hamas", aponta o jornalista no seu espaço de opinião na antena da TSF.
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No último mês, a guerra em Gaza alimentou o ódio cultural e religioso, surgindo "manifestações de antissemitismo", como a vandalização da sinagoga do Porto, alguns cartazes e mensagens de ódio exibidos em manifestações, além de ofensas e ataques "de todas as formas mais ou menos violentas, mais simbólicas ou mais concretas" contra judeus.
Daniel Oliveira ressalva que não faz sentido, por outro lado, falar de antissemitismo perante "as legítimas críticas ao Estado de Israel" nem "à recusa do projeto sionista", seja na sua corrente progressista - que diz admirar - seja na revisionista.
"A banalização do argumento antissemita é uma chantagem e um insulto à memória", defende o comentador, condenando ainda "a grotesca utilização da estrela de David ao peito pelo embaixador de Israel na ONU no preciso momento em que o Governo que representa mata milhares de pessoas em Gaza".
Tal como o povo judeu não pode ser condenado coletivamente pelas ações do governo de Netanyahu, os muçulmanos não podem ser coletivamente condenados pelas ações do Hamas. No entanto, a islamofobia vai competindo com o antissemitismo que levou ao "mais horrendo genocídio da era moderna" e "nunca adormeceu na Europa".
Portugal tem uma pequena comunidade muçulmana, mas André Ventura "num encontro com os seus parceiros neofascistas europeus, tentou agradar a plateia: usando o massacre do Hamas, explicou que com a invasão islâmica da Europa, todos estamos em risco".
"O antissemitismo e islamofobia são parentes próximos", alerta Daniel Oliveira. "Os antissemitas de hoje, sejam de direita ou de esquerda, dificilmente recusariam o ódio aos judeus do início do século passado. Navegam todos no mesmo esgoto moral."
"Nenhum tem espaço à mesa do debate sobre este conflito, porque ou são ignorantes - e a ignorância também mata - ou a estratégia é um mero pretexto para alimentarem o seu ódio", nota o comentador.
Da mesma forma, considera Daniel Oliveira a "acusação de islamofobia nunca poderia servir para calar a indignação com os massacres do Hamas ou até críticas a Autoridade Palestiniana, a acusação de antissemitismo não pode servir para calar a indignação com a carnificina e as críticas ao Governo de Israel".
"Temos que separar os planos se não queremos que os cultores do ódio os continuem a misturar", apela.
Texto: Carolina Rico