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Daniel Oliveira considera "indefensável" a ida de António Costa à Liga Europa, isto porque "usou meios do Estado para uma visita sem interesse para Portugal".
"Nem Roma nem o Sevilha são clubes nacionais e se foi lá por causa do apoio a um treinador ou a um jogador português não faria mais nada na vida", afirma o comentador no seu espaço habitual de Opinião na TSF.
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O cronista responsabiliza Costa por também se ter colocado ao lado de Viktor Orbán, "quando condena a direita democrática por não manter um cordão sanitário com a extrema-direita".
"É natural que António Costa esteja com todos os líderes europeus em encontros oficiais ou para tratar dos interesses do país. Não é natural que o faça para assistir a um jogo de futebol em que o nosso país não está envolvido", diz.
Para Daniel Oliveira, o que interessa neste tema "já não é o que seja condenável na escapadinha de Budapeste". "O assunto não tem gravidade que chega para ir mais longe do que já foi dito na semana passada."
O que interessa ao jornalista "é perceber o que pode ter levado a este gesto inusitado".
"A irracionalidade da ida de António Costa a Budapeste levou muitos a especular sobre as verdadeiras razões para a sua aproximação a Viktor Orbán, num momento em que o líder húngaro não teria qualquer poder para determinar fosse o que fosse dos interesses nacionais. Não encontrando explicação dos interesses portugueses e não levando a sério a desculpa do Mundial de 2030, procuraram as razões nos interesses do próprio António Costa. A Hungria terá a Presidência do Conselho da União Europeia no segundo semestre de 2024. O mandato de Charles Michel como Presidente do Conselho Europeu acaba a 30 de novembro de 2024. A escolha do seu sucessor será feita depois das eleições europeias, em pleno mandato húngaro. Orbán terá bastante poder nessa escolha. Esse é o único cargo de relevo disponível na Europa. Esse seria o único momento em que António Costa poderia interromper um longo mandato como primeiro-ministro, que pode ultrapassar os dez anos. Para lá da Presidência da República, é o que resta para a sua vida política, sendo certo que há muito deseja um cargo na Europa", explica Daniel Oliveira.
Costa, "perante a especulação e notícias que garantiam que é desejado em Bruxelas para presidir ao Conselho Europeu, até por ser dos líderes socialistas há mais tempo no poder e em condições para ocupar o cargo", garantiu que não aceitará qualquer posição "que ponha em causa a estabilidade do país".
O comentador relembra a formulação de Luís Montenegro sobre os entendimentos futuros com o Chega para dizer que a frase de Costa "é suficientemente clara nos princípios e suficientemente vaga na questão concreta".
"Ainda assim, é um compromisso de que não abandonará o cargo, como fez Durão Barroso, o que não quer dizer que, se alguém quiser interromper a viagem, não tenha um plano B, dando-lhe margem de manobra para mostrar a sua despreocupação com conversas presidenciais sobre dissoluções", defende Daniel Oliveira, sublinhando que "não há maior poder para um político do que saber que já não precisa do cargo que ocupa".
"É verdade que a ambição de Costa - e isso não tem como negar - é ir para um lugar muito menos relevante do que foi ocupado por Durão Barroso, que já tinha pouco poder porque até escolherem uma das suas para liderar a Comissão, os alemães optaram por líderes fracos, de nações fracas, assegurando que lhe obedeciam", atira.
Na opinião de Oliveira, o país ganhou "rigorosamente nada" por ter Barroso à frente da Comissão durante a crise financeira. "Mas isso era para presidente da Comissão, que é um governo que responde às nações mais poderosas da União", assinala.
"Já a Presidência do Conselho é um cargo pouco mais do que honorífico, um prémio de conforto e prestígio sem relevância política. Numa União Europeia que não funciona como uma democracia, os primeiros-ministros que queiram ir mais longe sonham com uma reforma política dourada em Bruxelas", acrescenta.
O cronista afirma que "mais do que agradar a esta ou aquela família política, o PPE hoje hegemónico, esta ambição implica agradar aos poderes nacionais e institucionais que contam na União, o que os impede de fazerem seja o que for para mudar o equilíbrio de poderes que prejudica os países mais fracos".
"Não sei se o encontro despropositado de Costa com Orbán faz parte de uma campanha de charme para um cargo europeu que vaga quando o líder autoritário húngaro vai ter as chaves da porta na mão. Não sei se Costa se está a precaver para o caso de o ciclo político ser interrompido pelo Presidente depois de umas eleições europeias que corram mal. Sei que a vontade da direita que António Costa faça as malas e seja um novo Durão Barroso é, por si só, uma confissão de fraqueza. Sentem que só o derrotam se ele abandonar o jogo", remata.
Texto redigido por Carolina Quaresma