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Há pouco mais de uma semana, o Ministério da Educação deu a conhecer que 18.000 alunos iniciaram a última etapa do presente ano letivo sem professor a uma disciplina.
Esta notícia, ainda que traduzindo dados parcelares, não encerra qualquer novidade: a escassez de professores é uma maleita (grave) de que padece Portugal.
O fenómeno não se circunscreve ao contexto nacional, tendo igualmente expressão significativa na Europa e no mundo, principalmente nos países que, nos últimos anos, desprezaram ou não souberam proteger a carreira docente, julgando as escolas aptas para exercerem cada vez mais tarefas e obrigações, com os professores a ser "pau para toda a colher".
Não se cuidou (cuida), como é da mais elementar justiça, daqueles que, todos os dias, desempenham a sua função com zelo e dedicação, deixando fugir para outras áreas docentes competentes e com inúmeras provas dadas, alguns dos quais já integrados na carreira que os inspirou e para a qual se prepararam excelentemente. O desencanto e a exaustão inglória são fatores preponderantes para derivar por outras áreas profissionais melhor remuneradas e com progressões mais céleres e devidas.
A agudizar uma situação já de si difícil, são em número marcadamente insuficiente os jovens que pretendem seguir os cursos via ensino. Estes, optam por outros mais aliciantes e sem os demasiados constrangimentos com que se debateriam numa profissão hiperburocrática, que coloca os seus docentes longe da habitual residência sem os compensar dos gastos acrescidos no tocante à estadia e à deslocação, que os mantém reféns nos 4.º e 6.º escalões, onde permanecem anos a fio, inibindo-os de progredir, apesar de terem tido menções de excelência.
Identificados os problemas de base, a "faca e o queijo" estão na mão do governo, assim este assuma, pela ação, a reversão de uma situação que configurará uma pandemia (falta de professores) se não lhe for aplicada um antídoto eficaz para imunizar duas áreas críticas: i) o atual diferendo existente entre Ministério da Educação e sindicato de professores, por um lado; ii) a falta de investimento nos recursos humanos das escolas, por outro, reforçando a contratação, motivando e atraindo mais pessoas para a mais bonita profissão do mundo.
Neste momento, o país educativo está de "olhos postos" na decisão do Presidente da República - vetar ou promulgar o novo modelo de recrutamento e gestão de professores, e julgo que em breve terá de se pronunciar sobre outro diploma que não está a gerar consenso: a recuperação do tempo de serviço congelado - com a tutela a pretender "acelerar as progressões" e os sindicatos a exigirem o resgate na totalidade.
A Escola Pública é merecedora de um orçamento robusto para destinar ao edificado, mas principalmente aos recursos humanos, dando resolução aos legítimos e justos anseios dos professores, "empurrados com a barriga" pelos sucessivos governos que se demitiram de fazer mais e melhor por uma área de fundamental valor.
Em consciência, pretendem desperdiçar uma oportunidade de ouro para aplicar o contraveneno a uma pandemia que já dá sinais e poderá causar danos irreversíveis?