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As burcas e a proteção das mulheres são o tema que escolhi hoje. O assunto ainda está no debate por cá, mas será mesmo que esta questão das burcas se coloca apenas com esta ideia de proteger as mulheres? Ou é apenas o começo de um caminho que quer proibir as práticas islâmicas em Portugal?
No debate paralelo feito até por alguns líderes políticos nas redes sociais, percebeu-se que a ideia é ir mais longe e tirar da paisagem véus islâmicos e outros sinais de um credo religioso diferente. Até os famosos lenços agora ligados à causa palestiniana são alvo desta ira encapotada de feminismo. Proibir tudo. Mas lá vem o politicamente correto para se dizer "não, não é isso, não estamos nada contra a presença de muçulmanos por cá e a burca é uma questão de segurança. Não podemos ter pessoas de cara tapada no espaço público". Todos se colocaram de acordo, com sorrisos condescendentes e siga lá a lei.
Diremos todos que estamos de acordo. O lugar da mulher não é um exclusivo da cozinha, o tanque, com a complicada tarefa dos filhos, e muito menos ser fechada dentro de um saco de pano a que se chama burca. A mulher tem um papel fundamental na sociedade, com respeito, igualdade de oportunidades e, já agora, de salário, com as tarefas de casa repartidas entre o casal, sem ninguém se assumir como chefe de família ou outro papel qualquer bafiento inspirado noutros tempos. Deixem lá claro o que defendem para as mulheres. Ficaremos todos mais esclarecidos.
Mas esta não é a questão e André Ventura veio às redes sociais dizer claramente o que está em causa. Escreve o líder do Chega: "A proibição das burcas foi um avanço civilizacional. Mas devemos também avançar com a proibição de atos e orações islâmicas nos espaços públicos portugueses."
Tudo fica claro. O objetivo está à vista de todos e a cruzada é para continuar, nem que seja disfarçada de defesa das mulheres.
Na nossa história assistimos à diabolização dos diferentes, sempre com resultados desastrosos. Muçulmanos, Judeus, africanos, asiáticos. É só olhar para o passado e perceber.
Ventura acredita no puro sangue português. Mas, na realidade, este é o povo que está espalhado por todo o mundo e que sempre soube conviver com os outros de forma pacífica, pelo que dificilmente se enquadra nesta ideia de que nós somos melhores que os outros e temos uma característica tão forte que só se encontra aqui neste retângulo na ponta da Europa.
Não há nada na ciência ou na nossa vida que prove esta teoria, mas a história sabe explicar onde acabam essas ideias de puro sangue, de discriminação e segregação dos diferentes, colocando sempre as coisas no perigoso campo do nós e os outros que vieram para cá para nos roubar.
Os portugueses, esses de puro sangue, sabem como foram para o Brasil, para África, para França e para as outras mil e uma paragens onde ainda estão a fazer pela vida. Sabem como foram tantas vezes mal recebidos por pessoas que pensavam que eles iam para lhes roubar o trabalho e viverem da segurança social desses países. Espero que sejam esses a perceber o perigo de se continuar neste caminho de intolerância que nunca acaba bem, mesmo nunca, e lá digo de novo: basta olhar para a história.