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Bobbly Wilson é um agrónomo aposentado, vive no vasto sul dos Estados Unidos, na Georgia, um Estado onde uma em cada oito pessoas passa fome.
Ao perceber que a pandemia e o aumento de preços de alimentos estava a agravar o problema ainda mais, dedicou-se à missão de garantir o acesso a alimentos frescos e livres de químicos e pesticidas às comunidades urbanas mais pobres e marginalizadas de Atlanta. Transformou, por isso, uma terra de 2 hectares no centro da cidade em terra agrícola, e lá começou um programa de formação às comunidades mais desfavorecidas para que jovens e menos jovens reaprendessem a cultivar e a alimentarem-se de forma saudável.
Este programa alimenta milhares de pessoas desde a pandemia e continua a fazê-lo hoje através da capacitação, da inclusão, da equidade, da força comunitária que resolve os seus problemas localmente. Estes alimentos não têm pegada de carbono, não são transportados. São locais, frescos e saudáveis e resolvem em si um problema maior do que a fome. Resolvem um problema maior e sistémico de direitos humanos: a discriminação que aflige sempre os pobres.
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Os direitos humanos, incluindo os direitos dos povos indígenas, e outras comunidades em maior vulnerabilidade, têm de estar no centro de todas as negociações e decisões da COP27 que decorre no Egipto.
Salvar o planeta é sinónimo de salvar a humanidade, de garantirmos direitos humanos para todas as pessoas. Tem, por isso, de ser criado um plano efetivo para que os Estados mais ricos - porque mais industrializados e poluidores - aumentem as contribuições para o financiamento da transição, mitigação e adaptação às alterações climáticas. Milhões de pessoas sofrem já por causa das alterações climáticas e, ironicamente, estas são, na maior parte dos casos, as que menos poluem.
Tem de existir um mecanismo financeiro com meios suficientes para fornecer apoio e reparação atempada às pessoas e comunidades cujos direitos humanos tenham ou estejam a ser violados como resultado de perdas e danos causados pela crise climática.
Apesar deste assunto estar em cima da mesa desta Conferência, os montantes disponibilizados até agora estão muito longe dos necessários.
E esses fundos, esses milhões que nem vemos e nem conseguimos quantificar, têm de ser aplicados localmente, através de políticas públicas feitas com os pobres e não apenas para os pobres. São as comunidades as que mais consciência têm daquilo que é preciso fazer para proteger a comunidade.
Políticas públicas que incentivem projetos de regeneração ambiental e humana, como o de Bobby Wilson. Políticas públicas que acelerem a transição justa que nos leve para longe da dependência de combustíveis fósseis e dos ditadores oportunistas que os vendem.
É uma pena que Bobby Wilson não esteja na COP27. É uma pena que representantes de comunidades mais vulneráveis e afetadas pelas alterações climáticas nem sempre sejam ouvidos na primeira pessoa. É que saberiam dizer, melhor que ninguém, o que todos temos de fazer para salvar o planeta... e salvando o planeta, salvamo-nos também.