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A instrumentalização da religião (seja ela qual for) pela política e vice-versa é uma das histórias mais antigas do mundo. Mais ainda, quando essa política se faz através da violência e da invasão de um país como é o caso da Rússia face à Ucrânia há quase um ano. Na verdade, violência, religião e política foram ao longo do tempo e, infelizmente, ainda são, uma espécie de tripla. Uma tripla que, para quem é crente como eu, entristece e preocupa.
Como é possível justificar religiosamente esta guerra sem limites na Europa do século XXI?
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Das várias afirmações do líder da Igreja Ortodoxa Russa a que mais me chocou foi proferida em Setembro do ano passado: «Se alguém, levado por um sentido de dever, permanece verdadeiro ao seu chamamento e morre em combate, então sem dúvida que o seu acto é equiparado a um sacrifício. Ele sacrifica-se pelos outros. E, por isso, acreditamos que o seu sacrifício lava todos os pecados cometidos por essa pessoa.» Estas palavras do patriarca russo desfazem quaisquer dúvidas sobre o seu pensamento face aos ucranianos e, em particular, aos ortodoxos como um todo.
Uma vez mais, a resistência ucraniana é impressionante. Se o objectivo da Igreja Ortodoxa Russa ao associar-se ainda mais a Vladimir Putin é o de expansão da sua autoridade então é um falhanço em toda a linha. A juntar, aliás, a outros absurdos vindos de Moscovo tais como a «desnazificação» da Ucrânia.
Por tudo isto, as ditas tréguas do Natal ortodoxo pedidas pelo patriarca russo não passaram de palavras sem sentido.