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Com as competições europeias em pausa, após a fase de grupos, chegou a hora das Taças entre as jornadas do campeonato. Primeiro a de Portugal, depois a da Liga. Talvez tempo para se pensar o que fazer com elas.
A pandemia transformou esta temporada em algo com que nunca nos tínhamos deparado. Para se conseguir meter o Rossio na Rua da Betesga - encaixar todas as competições, nacionais e da UEFA, numa época que, para lá disto, fechará com um Europeu atrasado um ano em relação ao previsto - foi necessário apertar os calendários de tal forma que não há tempo para respirar.
No caso das Taças portuguesas houve duas opções distintas. A Taça de Portugal manteve a sua estrutura no fundamental, o que se compreende se pensarmos que é a segunda prova mais importante e que, sublinhe-se, coloca o vencedor diretamente na fase de grupos da Liga Europa.
É verdade que, como já aqui referi, desta vez a tão propalada "festa da Taça" entrou em hibernação, porque não há ninguém nos estádios para festejar seja o que for. E, já se percebeu, também continuaremos sem saber quando é que haverá. Mas, com a chegada da(s) vacina(s), isto um dia vai acabar - para bem de todos nós - e é sobre esse momento que vale a pena refletir.
Esta é aquela prova em que as equipas da Liga principal têm tudo a perder e as dos escalões secundários tudo a ganhar. Daí que a opção por determinar uma eliminatória obrigatória no terreno dos mais "pequenos", seja uma forma de abrir a possibilidade aos chamados tomba-gigantes. Nesta temporada nem deu para muito, mas é uma ideia suficientemente interessante para se manter.
Simplesmente, para que isto faça algum sentido, o mínimo que se pede é que as equipas secundárias possam mesmo alinhar nos seus campos. É que quando a questão é optar entre o brilharete desportivo e o encaixe financeiro - algo de importância decisiva para clubes que lutam com enormes dificuldades o ano inteiro - é natural que as receitas das transmissões televisivas (e de bilheteira, quando tal for possível) se sobreponham. Logo, optar por estádios com outras condições é uma escolha quase inevitável para muitos.
Conclusão: se a Federação Portuguesa de Futebol agisse no sentido de contribuir financeiramente, ou de outra forma, para salvaguardar o cenário original seria particularmente aplaudida. Estamos a falar de situações pontuais, não de uma regra aplicável sem critério, pelo que tornaria bastante mais proveitoso o cumprimento daquele que é o real espírito da Taça.
Já a Taça da Liga é um caso diferente. Para começar, nunca conseguiu alcançar uma das intenções iniciais, que passava por dar ao vencedor o acesso a uma competição europeia. Se tal tivesse sucedido, a prova não seria relativizada como sempre foi. Vale um troféu, é certo, mas nunca saiu do último lugar na hierarquia.
Por outro lado, a fórmula adotada também não convenceu e o formato já foi sujeito a várias alterações ao longo dos anos. E continua a não convencer, à exceção da "final four", essa sim uma ideia que pegou e que se tem mostrado atrativa. O problema é o que a antecede.
Esta época, por via de todos os motivos já invocados, a Taça da Liga até correu o risco de nem se realizar. Mas, para salvaguardar o essencial (patrocínios e não só), optou-se por uma versão reduzida, apenas com oito equipas, com eliminatória única de acesso à "final four". Provavelmente, não existiria outra solução para haver Taça da Liga esta temporada.
Mas a questão coloca-se sobre o futuro, devendo perceber-se, antes do mais, se faz sentido manter tudo isto no calendário português, numa altura em que países com uma competição semelhante estão a abdicar dela ou a pensar fazê-lo. Sem ignorar a componente financeira - é uma ajuda para vários clubes profissionais que não nadam em dinheiro - continuo a pensar que a Taça da Liga precisa de algo mais estimulante do que aquilo que representa nos tempos que correm.
Ter boas intenções é positivo - e, na sua génese, a Taça da Liga tem-nas -, só que no complexo universo do futebol profissional, com o número de jogos a disparar de forma imparável, já está instalada a discussão sobre o que é essencial e o que é acessório. Ora, se não criar argumentos imbatíveis para a sua existência, esta é aquela Taça que facilmente será colocada na coluna do acessório.