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Daniel Oliveira defende que se o Bloco de Esquerda e o PCP viabilizarem o Orçamento do Estado para 2020 sem receber "nada em troca" serão "cúmplices de um pântano perigoso para a democracia", uma vez que esvaziarão a esquerda, deixando espaço livre para um eventual crescimento da extrema-direita.
O comentador adiantou esta terça-feira, no espaço de opinião que ocupa na TSF, estar preocupado com a possibilidade de este cenário se vir a concretizar: "Eu considero isto perigoso para a democracia, quando a direita está em crise e não é provável que saia da crise, mesmo depois das eleições internas. O PCP está muito fragilizado. Se o Bloco de Esquerda também ficar amarrado a uma solução onde não tem qualquer poder e não consegue cedências, o que sobra para os portugueses que não se revejam neste Governo é a extrema-direita."
Costa não pode funcionar como uma espécie de eucalipto que mata tudo à sua volta.
"Se o BE e o PCP viabilizarem este Orçamento como está ou próximo do que está, sem conquistas relevantes, serão cúmplices de um pântano perigoso para a democracia portuguesa que terá consequências nos próximos anos", atira.
No mesmo plano, Daniel Oliveira explica que "se o BE (e o PCP também) viabilizar o Orçamento do Estado sem receber nada em troca este passará a ser padrão para o resto da legislatura, no tempo que ela durar", isto é, estes dois partidos "ficarão presos nos próximos anos, obrigados a aprovar Orçamentos mesmo onde não haja qualquer cedência; caso contrário, serão responsabilizados pela queda do Governo."
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Daniel Oliveira vai mais longe e assegura que "Costa não pode funcionar como uma espécie de eucalipto que mata tudo à sua volta sem sequer conseguir mobilizar esse eleitorado", uma vez que "isso é o ideal para o crescimento da extrema-direita em Portugal, para o aparecimento de movimentos inorgânicos (como aconteceu com os enfermeiros, com os camionistas e como está a acontecer com a Polícia de Segurança Pública)".
"Eu acho que António Costa deve ouvir Marcelo Rebelo de Sousa, deve escolher um ou mais parceiros, deve negociar a sério com esses parceiros, quer com respeito público, quer fazendo cedências, porque António Costa não teve maioria absoluta e deve respeitar a vontade dos cidadãos", avança.
Por outro lado, caso o BE e o PCP votem contra o Orçamento do Estado ou consigam cedências relevantes - na visão do comentador - ganham "poder negocial para os próximos Orçamentos".
"António Costa tem de perceber que o Bloco de Esquerda e o PCP não viabilizam Orçamentos "de cruz"", remata.
* Texto de Sara Beatriz Monteiro