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Julho passado foi o mês mais quente em Portugal desde que há registos. Secunda-o o mês de Agosto. Foram vários os máximos históricos de temperatura que algumas estações meteorológicas do nosso país apontaram.
Por outro lado, a falta de chuva e de água no solo voltou a deixar quase a seco várias albufeiras. Em alguns locais o consumo de água foi mesmo restrito e falou-se numa revisão à lei da água.
Na vizinha Espanha os máximos históricos de temperaturas também se registaram e calcula-se que o aumento da média de temperatura anual já tenha atingido 1,6 graus.
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Também em Espanha, o número de mortes por causas atribuíveis ao calor extremo entre junho e setembro de 2022 ascendeu a mais de 4 800 pessoas.
As ondas de calor são cada vez mais frequentes, mas também a poluição atmosférica é causa destas mortes.
A zona mediterrânica é a região que está a aquecer mais rapidamente.
Enquanto as temperaturas crescentes nos afetam a todos, são idosos, crianças, mulheres grávidas, trabalhadores no exterior e pessoas que vivem em condições de pobreza e sem uma habitação condigna e climatizada os que sofrem mais por estarem mais expostos aos riscos das alterações climáticas.
A disparidade do clima regista-se agora, tão pouco tempo depois deste Verão que ainda não acabou com cheias na Grécia e incêndios florestais perto de Coimbra, tudo ao mesmo tempo.
Os fenómenos climatéricos extremos são cada vez mais comuns. A Terra está a reagir à disrupção causada pela atividade humana poluente.
António Guterres, esta semana na Cimeira do Clima de África, referiu-se ao continente que tão poucas emissões de CO2 provoca, mas cuja população tanto paga em consequência dessa poluição mundial. Disse o secretário-geral das Nações Unidas que "ainda vamos a tempo de evitar os piores efeitos" da crise climática se mudarmos o rumo do sistema financeiro que é tão lucrativo com o seu modus operandi de produção que polui, para riqueza de uns e desgraça de todos.
Mudar o sistema financeiro é uma tarefa hercúlea e persisto em ter esperança de que é possível.
Essa esperança desvaneceu, contudo, todas as vezes - e não foram poucas - que ainda vi neste verão, beatas de cigarro a serem atiradas de janelas de carros em andamento, para o chão, em dias de tanto calor, em zonas de mato e floresta.
Deixo o apelo: se neste gesto tão pequeno e proibido conseguirmos mudar de forma exemplar, talvez o resto também venhamos a conseguir.
