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Nos últimos dias, temos tido um conjunto de iniciativas diplomáticas dignas de nota e que nos ajudam a contextualizar melhor os apoios e os alinhamentos relativos à invasão russa da Ucrânia. Ora bem, tivemos o Presidente do Irão a fazer uma visita de estado extraordinária à República Popular da China na passada semana. Por sua vez, o Presidente Xi Jinping prometeu retribuir o esforço e a iniciativa do Irão.
E, neste fim de semana, teve lugar um encontro entre Antony Blinken e Wang Yi, ambos com a pasta de negócios estrangeiros dos EUA e da China. Desta reunião resultaram declarações de Blinken que são muito preocupantes. Sobretudo porque estamos a falar de alguém que tem desempenhado as suas funções com prudência e com um registo profissional e discreto. Nas suas palavras: "A preocupação que temos agora é baseada em informação que indica que eles [os chineses] estão a considerar o fornecimento de material de apoio que inclui armas [aos russos]."
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Acresce à relação bilateral entre a Rússia e a China outra relação muito reforçada que ambos têm vindo a desenvolver com o Irão. A título de exemplo nesta Guerra basta pensarmos nisto: é ao Irão que a Rússia tem recorrido para o fornecimento de drones.
Tendo em conta este alinhamento lembrei-me muito de uma conferência extraordinária a que assisti na passada quarta-feira na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, uma fundação que conhecemos melhor simplesmente como FLAD. A palestrante é uma das grandes analistas de política internacional e, em especial, das relações transatlânticas. Estou a falar da alemã Constanze Stelzenmüller da Brookings Institution - uma organização com sede em Washington e que é uma referência a nível de pensamento - cuja palestra se intitulou: "O Mundo Livre e os seus Inimigos: a Guerra da Rússia e a Ascensão da China."
Há muito que sigo o trabalho de Constanze. Teria muitos destaques, mas a minha escolha recai sobre uma expressão simples e que é talvez a melhor forma de caracterizar o que está em jogo nesta Guerra e, sobretudo, a essência de Moscovo e das ditaduras em geral: "o medo da diferença".
É mesmo na mouche.