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No meio de tão grande desgaste governativo, com o chefe do Executivo encostado à parede a tentar resolver todos os casos e casinhos, para ver se arranja tempo para governar Portugal, e a oposição não ata nem desata.
Sete portugueses em cada dez consideram que a equipa de António Costa é má ou muito má, mas mudar de governo não está nos planos da maioria dos descontentes. Estão convencidos que para pior já basta assim. Luís Montenegro não está a dar conta do recado e a ideia de que poderia haver uma antecipação das eleições fica, assim, cada vez mais longe. Bem pode Marcelo Rebelo de Sousa guardar a bomba na gaveta, por este andar até a guerra fria entre os palácios vai ter de regressar aos tempos mornos em que um guarda-chuva servia para os dois.
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A esperança dos que se cansaram de Costa, e querem outra coisa, volta a estar mais dentro do PS que fora. Pedro Nuno Santos regressa à política ressuscitando de uma morte anunciada e volta a ser hipótese para suceder ao actual líder e disputar as eleições em 2026.
É neste ponto que importa recuperar a questão da geringonça de direita porque, embora Montenegro se afirme de uma clareza à prova de bala, quanto pior for o resultado do seu PSD mais perto fica de dar o dito por não dito. Uma aliança PSD/Chega, na linha daquela que vemos formar em Espanha entre o PP e o Vox, pode sempre aparecer como inevitável, dependendo do grau de aflição política em que se encontrar o líder social-democrata. Não seria sequer uma novidade, porque em 2015 foi esse mesmo espírito de sobrevivência que ligou o PS ao PCP e ao Bloco.
A TINA de cada um dos blocos nesta polarização em grande velocidade, com vontade de acelerar ainda mais, voltará a fazer-se com alianças que parecem contra-natura até ao momento em que acontecem, porque se há coisa que os portugueses já se devem ter arrependido é de ter dado novamente uma maioria absoluta a um só partido. Ou, como dizia ontem Pedro Nuno Santos, os portugueses guardam boa memória da geringonça. Estarão disponíveis para a aceitar venha ela da esquerda ou da direita?