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Num artigo publicado no Observador intitulado "O País onde não se pode fazer discursos", Maria João Marques remete para o tamanho alarido gerado, de uma ala a outra, em Portugal, a propósito do discurso pouco ortodoxo de João Miguel Tavares, jornalista, outrora padeiro em Portalegre, aquando das comemorações do 10 de junho, para alguns intelectuais de plantão, concluindo que - e vou parafrasear - "o "cada macaco no seu galho" não é exatamente uma ideia consonante com uma democracia, onde se defende que cada macaco pode aspirar a qualquer galho. É antes uma visão do mundo profundamente reacionária e, ela sim, antidemocrática".
Pois bem, outro dia ouvi isso mesmo - o "cada macaco no seu galho" - a propósito das posições duras que tenho contra a proliferação da monocultura do eucalipto em Portugal. Portugal, 5.º país com a maior mancha contínua de eucaliptos do mundo, perdendo apenas - repito, apenas - para países como China, Brasil, Índia e, claro, a Austrália.
Veja-se bem a desproporção continental dos países a quem perdemos as primeiras 4 posições. Coisa pouca.
Depois, considerem todas as condições edafoclimáticas que nesses países, a exceção, para já, da Austrália, a plantação contínua da espécie em causa não tem gerado, ainda, grandes incêndios florestais, sobretudo com impactos catastróficos, como em Portugal.
Digamos que são países onde chove muito quando as temperaturas são altas. Quando nós por cá estamos a caminhar a passos largos para um clima semidesértico, mais parecido com o norte de África. E pior ficará com os incêndios.
Ou ainda o facto de serem países pouco povoados, à exceção talvez da Índia.
Então repesco o "cada macaco no seu galho" e só me apraz dizer que em Portugal não se pode ser autodidata, nem pensar por si próprio e, muito menos, dizer o que se pensa. Pior, não se pode fazer o que se pensa.
Por extensão,
Quem é padeiro, há de fazer pão a vida inteira. E falar da vida alheia nos tempos livres. Isso pode.
Quem é motorista, há de de conduzir todo o dia. E falar da via alheia. Isso pode.
Quem é enfermeiro, há de de cuidar dos pacientes, estes pouco pacientes, e com cara de satisfeitos já agora. E falar da vida alheia. Isso pode.
Quem é banqueiro, há de gerir a banca em prol de si próprio e dos Donos Disso Tudo, o que vai dar ao mesmo. E falar da vida alheia entre um crédito de risco e outro. Isso pode.
E todos podem falar de futebol. Nesta matéria, todo galho é galho.
Mas ser autodidata, pensar diferente e agir conforme se pensa, para isso já é preciso ter o canudo do galho certo.