Por esta altura do ano, as lojas estão inundadas de calendários de advento. Há-os de joias, de produtos de beleza, de chás, de mil e um doces alternativos aos clássicos chocolates. Lá por casa a tradição ainda é o que era. A cada dia de dezembro abre-se uma nova janela e surge uma tarefa ou brincadeira criada por mim, destinada aos miúdos, mas concretizada em família. Por vezes há sugestões que se prolongam ao longo do ano. Outras são terminadas fora de época. Desde que o calendário nos leve a sair de nós mesmos e a chegar a alguém de forma inesperada, cumpriu o seu propósito.
Penso na quantidade de deputados católicos sentados no hemiciclo e lamento que ninguém se tenha lembrado de oferecer um calendário personalizado às bancadas que se sentam mais à direita. Tenho sugestões muito simples de tarefas a cumprir:
- Fazer uma intervenção em plenário sem insultos, palavras de ódio contra migrantes ou preconceitos relativamente a minorias.
- Não mentir, mesmo que as aldrabices rendam muitos likes no Insta e seguidores no Tik Tok.
- Estudar a Constituição, particularmente o artigo 13º.
- Almoçar com o Ricardo Quaresma e a Olga Mariano e aprender alguma coisa sobre os ciganos em Portugal.
- Subir a escadaria da Assembleia da República ao pé-coxinho cada vez que alguém da bancada insultar uma mulher.
Não tenho tempo para 24 sugestões, mas fica a ideia. Um calendário de Advento pelo humanismo. Uma dose pequenina por dia, para não sermos demasiado ambiciosos. Não deve custar assim tanto, ou custa?
