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Esta cruz que agora temos de carregar até depois de celebramos a ressurreição de Cristo, e a que chamamos confinamento com escolas fechadas, resulta, antes de mais, do medo de que tudo volte a falhar, como falhou no Natal. Marcelo tinha dito há 15 dias que é "para evitar o risco de ser mais um desconfinamento entre duas vagas" e ontem sentenciou que aligeirar ou agravar as medidas de contenção deve basear-se na consciência de quem decide e não na opinião de cada instante, que "ora quer fechar por medo, ora quer abrir por cansaço", acrescentou o Presidente.
O que me parece é que os decisores políticos já decidem não decidir diferente do que existe porque estão cansados do medo de falhar. Acontece que deixar ficar tudo como está pode dar a sensação de que não existe esse risco, mas, na verdade, esse pode ser o maior falhanço. Não devemos duvidar das mais nobres intenções de quem quer as crianças e os jovens fora da escola mais um mês, para lá de todo o tempo que passou, mas podemos discordar dessa decisão e insistir à exaustão para o erro que vemos cometer.
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Há ainda uma incoerência presidencial que importa ver esclarecida. Marcelo traça linhas verdes com os números máximos que podem existir para iniciarmos um desconfinamento (dois mil novos casos diários, mil e quinhentos internamentos e 200 nos cuidados intensivos) mas depois aponta-nos datas. Ou bem que decidimos com base na ciência, ouvindo os especialistas e atendendo aos números, ou bem que apontamos uma data milagrosa em que vamos renascer para o novo normal.
Ficar bem na fotografia não pode ser apenas recuperar a imagem do país no que toca à gestão da pandemia. Como li esta semana no Expresso, uma notícia dando conta dessa prioridade assumida nos palácios, em plena presidência portuguesa da União Europeia e com três cimeiras importantes na agenda já para finais de maio e princípios de junho. O país sonha com números fantásticos para receber chefes de Estado e de governo, incluindo Joe Biden, mas também, já agora, para que as crianças e os jovens possam regressar à escola.