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1 - O DIA EM QUE QUASE TUDO MUDOU. 24 de fevereiro de 2022 entrará para a História num lugar superior - em relevância e significado - ao 11 de Setembro de 2001, ou mesmo à queda do Muro de Berlim (9 novembro 1989).
2 - NOVA ARQUITETURA DE SEGURANÇA. O mapa de segurança europeia terá que ser profundamente alterada. A Rússia passou de ameaça a agressor. O maior país do mundo tenta invadir o maior país da Europa.
3 - DEMOCRACIA VS AUTOCRACIAS. Eis o que está verdadeiramente em causa. Afinal, Biden tinha razão em colocá-la como prioridade do seu mandato presidencial.
4 - LIBERDADE VS TIRANIA. Se Putin prevalecer após a criminosa invasão da Ucrânia, outros tiranos podem sentir-se legitimados.
5 - PAZ VS INSEGURANÇA. Em causa está a continuidade da nossa vida de bem-estar com Segurança, que pensávamos certa e duradoura.
6 - ESCOLHAS DIFÍCEIS. Para a mantermos vamos ter que fazer escolhas difíceis - gastar mais na Defesa, tirar em áreas importantes.
7 - ACELERADOR DE MUDANÇAS INESPERADAS. Em poucos dias vários tabus caíram: a Suíça levantou sigilo e neutralidade de décadas; - oligarcas congelados; apão e Alemanha (potências derrotadas da II Grande Guerra) entram pela primeira vez num conflito internacional desde os anos 40 do século passado, ao assumirem o lado ucraniano e contribuírem com armamento; - orçamentos defesa dos países europeus a caminho dos 2% (burden sharing exigido pelos americanos equilibrar fatura NATO pode ser resolvida mais rapidamente).
8 - O RENASCIMENTO DA NATO. De "morte cerebral" e "organização obsoleta", a Aliança Atlântica passou, num abrir e fechar de olhos, a afirmar-se como espaço crucial para travar a maior ameaça à segurança europeia desde a II Guerra Mundial.
9 - E SE NA CASA BRANCA ESTIVESSE TRUMP EM VEZ DE BIDEN? Talvez a Ucrânia, 100 dias depois, já fosse agora uma espécie de protetorado russo. Talvez. Pelo menos não teria havido esta ajuda quase sem limites de Washington a Kiev.
10 - E SE TRUMP VOLTAR EM 2024? Putin estará a jogar nisso. Sabe que a Rússia terá muito mais condições de lidar com um "conflito congelado", a prolongar-se por mais dois anos e meio, sem vencedor nem vencido. Se os EUA voltarem a uma liderança isolacionista e de egoísmo nacionalista, Putin terá caminho livre para tratar do que na altura restar de uma Ucrânia martirizada.
11 - A REVITALIZAÇÃO DO PROJETO EUROPEU. A UE já vai no sexto pacote de sanções, tem havido travões e problemas, mas a coesão europeia, 100 dias depois, tem deixado muito boa gente de boca aberta. As notícias sobre a morte do projeto europeu são sempre francamente exageradas. Sempre.
12 - "BREXIT" MINIMIZADO. O Reino Unido a reaproximar-se do "continente" pelo receio do inimigo comum (quem diria, depois de divórcio tão doloroso e litigioso com o Brexit?).
13 - O MEDO VOLTA A MOSTRAR-SE UM PODEROSO FATOR DE UNIÃO. Bálticos, Polónia, Moldávia, Geórgia, nórdicos (Finlândia e Suécia) - todos com motivos para se sentirem ameaçados pelo "urso" russo.
14 - DUALIDADES (I). Putin não tem que gerir opinião pública livre e esclarecida; europeus e americanos têm que explicar ao pormenor cada decisão difícil. É muito diferente.
15 - DUALIDADES (II). Putin pode esperar, pode mandar as tropas parar e retomar mais tarde, sem se preocupar minimamente com as condições dos seus soldados. Europeus e americanos precisam de gerir o conforto e bem-estar de quem os elegeu democraticamente. Cada semana de guerra que passa é um risco que aumenta de contestação e cansaço. É mesmo muito diferente.
16 - ESFORÇO LONGO. Esta guerra tem 100 dias mas, muito provavelmente, ultrapassará muitas barreiras temporais. Tem tudo para ser longa, indefinida, prolongada, confusa. Quem está a ganhar? Quem está a perder? Quem define? Quem se atreve a responder?
17 - A RÚSSIA NÃO PODE GANHAR. Não pode mesmo. Seria premiar o agressor. Seria o triunfo da imoralidade, da ilegalidade e da indecência. Seria abrir precedente perigoso, a convidar outros "bullies" com poder militar a fazer invasões a países vizinhos mais fracos. Não pode acontecer.
18 - NÃO CONFUNDIR O QUE É MESMO ESSENCIAL. "Dar armas à Ucrânia não é escalar a guerra, é ajudar um país que está a ser brutalmente agredido. É uma obrigação moral" Olaf Scholz, chanceler alemão, ao Parlamento de Berlim. Draghi também foi claro nesse ponto, ao travar pressão da oposição italiana, que pretendia que olhasse mais para os interesses dos contribuintes dos italianos e menos em ajudar a Ucrânia.
19 - AMEAÇA NUCLEAR? Putin agitou o fantasma nuclear logo ao quarto dia, jogando a cartada de a Rússia ser o maior poder mundial nesse capítulo. Ao 100.º Dia essa ameaça mantém-se mas parece mais difusa. Com isso, a Rússia cria a ideia (errada) que o uso das forças convencionais é um mal menor. Não é.
20 - CONSEQUÊNCIA E NÃO CAUSA. Duma vez por todas, para quem ainda não percebeu: dar armas à Ucrânia não é "escalar a guerra", é permitir que alguém que está a ser, todos os dias, agredido, atacado, destruído, violado, roubado e exterminado possa agir em legítima defesa. A "indústria de armas" sai a ganhar com isso? Certo. Mas a guerra não existe por causa disso. Existe pela irresponsabilidade criminosa e ilegal de Vladimir Putin. Ponto. Quem ganha dinheiro a vender armas está, neste caso, do lado da consequência e não da causa. Percebido?
21 - RECONSTRUIR COM CONDIÇÕES. A UE quer participar na reconstrução, mas exige em troca garantias de combate à corrupção em Kiev. O financiamento pode exigir vários milhares de milhões de dólares e reconstrução pode demorar uma década ou mais. Enquanto isso, a UE propõe ajuda imediata à Ucrânia de 9 mil milhões em empréstimos (linha de crédito especial "ReBuildUkraine"), com empréstimo da Comissão e aval dos estados-membros, para que a Ucrânia continue a funcionar até ao fim de junho.
22 - FINLÂNDIA E SUÉCIA EM VIRAGEM HISTÓRICA. A decisão de Helsínquia e Estocolmo de entrar na NATO por terem, simplesmente, deixado de confiar na Rússia foi o momento mais relevante da geopolítica desde 24 de fevereiro. Será estudada por várias décadas. Putin não teve uma derrota estratégica - teve uma humilhação indisfarçável. Em vez de travar a expansão da NATO a leste, provocou o alargamento da aliança a norte.
23 - "HOJE NINGUÉM DUVIDA DA IMPORTÂNCIA DA NATO". Biden, na receção na Casa Branca ao presidente da Finlândia e à primeira-ministra sueca: "Território NATO nunca estará em risco; um país que entra na NATO não ameaça ninguém". Magdalena Andersson: "A Suécia escolheu um novo caminho; somos campeões da democracia e da Liberdade". Saulo Ninnisto: "A Finlândia ajudará a combater o terrorismo".
24 - RÚSSIA AMEAÇA COM "GUERRA TOTAL". Mas soa a falta de argumentação realista perante isolamento crescente. Medvedev acusa EUA de estarem "em guerra com a Rússia por procuração", ao fornecerem armas à Ucrânia; ameaça de retaliação também pela adesão de Suécia e Finlândia à NATO.
25 - A RÚSSIA NÃO TEM DIMENSÃO PARA ESCALAR CONFLITO CONVENCIONAL A OUTROS PAÍSES. A menos que estejamos a falar só da Moldávia. Perante as grandes dificuldades que tem acusado no terreno só na Ucrânia resta a Moscovo agitar a ameaça apocalíptica nuclear. A NATO, em breve fortalecida pela entrada de Finlândia e Suécia, tem, em bloco, muito mais força bélica que a Rússia.
26 - ZELENSKY CONTINUA A SER OUVIDO AO FIM DE 100 DIAS. A este nível, é caso único. Tem conseguido manter pressão no apoio internacional. Mas... até quando?
27 - KIEV NÃO BAIXA OS BRAÇOS. A Ucrânia quer ganhar tempo para estar a postos de usar material pesado que está a receber do Ocidente e apostar num grande contra-ofensiva por meados de junho.
28 - MOMENTO ATUAL ACENTUA CLARA OPOSIÇÃO. A Rússia só consegue afirmar-se pela agressão e ameaça. NATO, EUA, Reino Unido, União Europeia encontram pontos de união no interesse comum de travar Moscovo. Fica assim mais clara a necessidade de preservar valores de Democracia e Liberdade. Não são mesmo um dado adquirido.
29 - APAGAR UMA IDENTIDADE É APAGAR O FUTURO. "A deportação das nossas crianças para apagar a sua identidade e criá-las como russos é uma prova direta do plano para destruir a Ucrânia. A tarefa primordial da comunidade internacional é desenvolver um mecanismo eficaz de justiça e responsabilidade pelos crimes da Rússia na Ucrânia, que se tornará uma ferramenta agora e uma salvaguarda para o futuro" (Iryna Venediktova, procuradora-geral da Ucrânia, em testemunho nas audições da Comissão de Helsínquia sobre possíveis crimes de guerra da Rússia na Ucrânia).
30 - "ATROCIDADES HORRÍVEIS". Em post na sua página pessoal no Facebook, a procuradora-geral ucraniana desenvolveu: "A Comissão de Helsínquia do Congresso dos EUA realizou uma sessão sobre os crimes de guerra da Rússia na Ucrânia. Testemunhei nas audiências sobre as atrocidades horríveis cometidas pelo exército russo em nossa terra: o bombardeamento deliberado de civis, assassinatos e tortura, o uso da violação como arma de guerra", acusou Iryna Venediktova.
31 - VADIM SHISHIMARIN. 21 anos, soldado russo natural da Sibéria, declarou-se culpado em tribunal da morte de um homem de 62 anos que, a 28 de fevereiro, passava de bicicleta numa aldeia em Sumy. Pediu desculpa à viúva da vítima mortal. Kiev assegura que serão recolhidas provas que vão permitir julgar a liderança russa por crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional.
32 - OLHEMOS (CADA VEZ MAIS) PARA A MOLDÁVIA. Sinais de movimentações militares na Transnístria reforçam as suspeitas de que Moscovo pretende alargar este conflito para lá do território ucraniano e que o objetivo de fechar o corredor sul pode estender-se para lá de Odessa, principal porto marítimo da Ucrânia, visando o controlo total da rota marítimo do Mar Negro e impedindo o acesso da Ucrânia ao Mar, algo que teria enormes consequências económicas para o governo de Zelensky, tornando a Ucrânia numa espécie de "país interior", vedado do acesso ao mar.
33 - PORQUÊ A TRANSNÍSTRIA? Um alargamento do plano militar russo a esta região fará com que a guerra extravase a fronteira da Ucrânia e se estenda a um outro país - a Moldávia -- que, não sendo NATO, faz fronteira com a Roménia, ou seja com espaço UE e NATO; a Moldávia é um pequeno país de apenas 33 mil kms2 (um terço do tamanho de Portugal) e dois milhões de meio de habitantes (um quarto de Portugal). Mas tem a Transnístria, região onde os russos têm presença militar há três décadas, desde o início dos anos 90 - e há quem tema que os russos possam usar a Transnístria como forma de cercar Odessa, entre o Mar Negro e esse tampão terrestre.
34 - GUTERRES, O "MENSAGEIRO DA PAZ". Mas não o "construtor". No périplo Turquia-Rússia-Ucrânia, com passagem terrestre pela Polónia, o Secretário Geral da ONU disse na cara de Putin, o responsável e mandante da agressão, que tem que parar com esta guerra; lembrou a Lavrov que "não há forças ucranianas na Rússia mas há forças russas na Ucrânia"; viu "in loco" os horrores cometidos pelos russos e desafiou a Rússia a colaborar com o TPI para que se investiguem e julguem possíveis crimes de guerra.
35 - SEM FORÇA PARA PARAR A GUERRA. Guterres admitiu que a ONU não tem força para parar o conflito, retirou as Nações Unidas da mediação "política" (endossando para já a Turquia nesse papel) e reforçou a parte humanitária, apostando quase todas as fichas na exigência, junto de Putin, de que aceite colaborar na prossecução de corredores humanitários capazes de retirar os civis de Azovstahl - nesse ponto teve uma grande vitória.
36 - ESCALADA PERIGOSA RÚSSIA VS NATO SOBRE O QUE É "LEGÍTIMO" FAZER E O QUE SIGNIFICA "AGRESSÃO". O ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, repetiu que é legítimo para a Ucrânia visar alvos logísticos dentro do território russo. "Se a Ucrânia escolhesse como alvo a estrutura logística do exército russo, isso seria legítimo à luz do direito internacional (...) É realmente importante enviar uma mensagem a Putin de que ele terá sempre uma escalada de certos comportamentos quando se comportar como ele faz. É sempre calibrado para garantir que não alarga o conflito e para garantir que somos vistos como sendo defensores".
37 - KHERSON: EXPROPRIAÇÕES, RUBLOS E REFERENDO. Rússia vai "expropriar" colheitas agrícolas dos produtores de Kherson. O site da Assembleia Legislativa da região de Krasnoyarsk, na Rússia, publicou os seus planos para "expropriar as colheitas excedentes dos agricultores" na região agora ocupada de Kherson". A prática de expropriação de bens alimentares pelos russos na Ucrânia foi particularmente dura no tempo do Holomodor, quando a URSS deixou à fome milhões de ucranianos nos anos 30 do século XX. Próxima da Crimeia anexada por Moscovo em 2014, Kherson é a primeira e até agora única grande cidade ucraniana sob controlo total dos russos desde o início da guerra. Receios ucranianos de que russos se preparem para fazer em Kherson o que fizeram na Crimeia, um referendo ilegal a "legitimar" ocupação.
38 - QUANDO É QUE ISTO VAI PARAR? "A situação só vai parar quando houver um vencedor claro e inequívoco no campo de batalha" (René Nyberg, ex-embaixador finlandês na Rússia e na Alemanha). As negociações serão ditadas por esse dilema: Rússia só aceitará negociar nessa posição de força de, ganhando a batalha do Donbass, ter o controlo real de 30 a 35% do território ucraniano? Aceitará Zelensky abdicar de parte do seu território em nome da paz possível? E dará para acreditar num acordo desses quando nem Minsk 14/15 (para travar guerra no Donbass) foi cumprido?
39 - FECHAR, OU NÃO, O CORREDOR TERRESTRE. A grande questão no terreno: vai a ofensiva russa no Donbass permitir à Rússia fechar o corredor terrestre que vai de Donetsk/Lugansk até à Crimeia? Vão os russos atingir esse objetivo e a partir daí, nas próximas semanas, fechar o corredor sul e com isso impedir o acesso dos ucranianos ao Mar de Azov (conquistada Mariupol) e ao Mar Negro (Crimeia e mais tarde Mikhaylov e Odessa)?
40 - DOIS POSSÍVEIS DESTINOS PARA AS INTENÇÕES RUSSAS NA UCRÂNIA (I). O primeiro é ter o Rio Dnipro como "fronteira natural" dessas "duas Ucrânias" decorrentes da medição real de forças pela guerra: uma, a norte e noroeste, com Kiev como praça forte da Ucrânia de Zelensky, mas a passar a cingir o país a uma realidade "interior", sem acesso à riqueza do corredor marítimo; outra do Leste, Sudeste e corredor sul, entre Donbass, Mariupol e Crimeia, onde os russos já têm neste momento um controlo muito significativo e que pretenderão ver legitimado num acordo pós-guerra.
41 - DOIS POSSÍVEIS DESTINOS PARA AS INTENÇÕES RUSSAS NA UCRÂNIA (II). Outro mais preocupante e assustador: a tese de Moscovo de que "a Rússia não tem fronteiras". Putin acredita no princípio de Montesquieu que "só poder trava o poder". Quer fazer disto a prova final de que o seu hard power deixou de estar disponível a ser contido pelo "soft power" (a dissuasão, a diplomacia, a negociação), que marcou o paradigma do nosso modo de vida das últimas sete décadas, pós II Guerra Mundial.
42 - UCRÂNIA COMO EXEMPLO DO PODER RUSSO? Putin poderá ter escolhido a Ucrânia para mostrar a países muito mais pequenos e frágeis, como a Moldávia e a Geórgia, que devem subjugar-se sem resistência, ou lhes acontece o que está a acontecer na Ucrânia: morte e destruição em grande escala. É a tese da dentada na noz mais dura: a partir daí, tudo parecerá menos difícil para o agressor.
43 - ZELENSKY AO PARLAMENTO PORTUGUÊS. Lembrou que Portugal enfrentou uma ditadura, destacou o 25 de Abril como momento histórico e mostrou que Ucrânia pode vencer ditadura russa, mas pediu: "Ajudem em tudo o que puderem". Denunciou atrocidades russos: "Matam para se divertirem". Usou comparação poderosa: "Mariupol é do tamanho de Lisboa e não deixaram uma habitação por atingir. Não pode haver um único banco que funcione na Rússia. A Ucrânia está a caminho da União Europeia"
44 - AJUDAR A UCRÂNIA É UM DEVER MORAL. No mesmo dia, Augusto Santos Silva, em nome do Parlamento português, disse o essencial do que está em causa: "Temos o dever moral de ajudar a Ucrânia. A luta do seu país é a luta da Europa e da Liberdade. Ganhar a Paz exige forçar o agressor a parar. O agredido tem o direito de combater o agressor".
45 - JOHNSON E O PAPEL DO REINO UNIDO. Como é que se consegue negociar com um crocodilo que tem a tua perna nas suas mandíbulas?" (Boris Johnson sobre a quase impossibilidade de acreditar nas negociações da Ucrânia com o agressor russo). O primeiro-ministro britânico questiona a possibilidade de negociação de paz na Ucrânia. Durante a viagem de avião para a Índia, onde aprofundou laços comerciais com Nova Deli, Boris mostrou-se muito crítico em relação ao comportamento revelado até agora por Vladimir Putin e admitiu muitas dúvidas e reservas quanto a um possível caminho pela paz se com o seu homólogo indiano, Narendra Modi. A Índia tem tido um papel dúbio na gestão deste conflito: é um aliado dos EUA na travagem da ascensão da China na frente do Indo-Pacífico, mas tem relações comerciais muito profundas com a Rússia, das quais não pretende abdicar.
46 - RÚSSIA PROCURA IMPORTADORES ALTERNATIVOS. Putin tenta redirecionar exportações de energia da Europa para a Ásia. Perante as sanções e a anunciada alternativa que os países europeus pretendem construir em relação à dependência energética de Moscovo, a Rússia anuncia um movimento mais do que esperado: aproveitar esse problema para reforçar a aliança asiática que tem vindo a construir -- o que aumenta ainda mais a importância de vermos os sinais de Pequim e Nova Deli.
47 - O DILEMA ÉTICO DA NEGOCIAÇÃO. "Ninguém quer negociar com quem tortura uma nação, mas não podemos perder a oportunidade de buscar uma solução diplomática" (Volodymyr Zelensky). "Não se faz a Paz com um ditador nazi: derrotamo-lo com sangue, suor e lágrimas" (Winston Churchil).
48 - CEDER A QUEM ESTÁ A TORTURAR OS NOSSOS? É o grande dilema que o próprio Zelensky assume: negociar com quem está a torturar a Ucrânia é um paradoxo, mas a necessidade de se tentar uma solução diplomática exige que se procure essa oportunidade: "Qualquer tipo de paz, sob qualquer condição"; é necessário colocar as emoções de lado - e dar prioridade a salvar vidas "por mais difícil que isso seja". Muitas vezes diz-se que "o excessivo realismo não tem ética". Não é correto: tem a ética das consequências. Um acto é bom, se atingir os seus objetivos. Por estes dias, Volodymyr Zelensky estará a sentir isso na pele.
49 - SUBESTIMAR A RÚSSIA FOI UM ERRO. MAS HUMILHÁ-LA PODE VIR A SER ERRO AINDA MAIOR. Por estes dias de infâmia, vemos a destruição da Ucrânia e a tentativa de massacre ao povo ucraniano e é impossível não fazer paralelos com o período das duas guerras; o isolamento da Rússia parece fundamental, mas é preciso cuidado: a história mostrou-nos o Tratado de Versailles (1919), que ditou a humilhação da Alemanha, derrotada da I Guerra, por parte dos vencedores. Sabemos o que se seguiu: a vingança nazi na II Guerra Mundial, duas décadas depois. Subestimar a Rússia foi um erro - mas humilhá-la pode ser ainda pior. E a Rússia de Putin em 2022 tem armas nucleares, o que Hitler não tinha.
50 - PUTIN ACREDITOU NA SUA PRÓPRIA PROPAGANDA. Achou que os EUA estavam em declínio e não iam liderar resposta para travar avanço da agressão russa; achou que a NATO não seria revitalizada; achou que a Europa não ia conseguir consenso a 27 - errou em todas as premissas.
51 - A RESISTÊNCIA UCRANIANA ESTÁ A BARALHAR TODOS OS DADOS. "O coração é o que faz o caráter" (Eça de Queiroz). A Ucrânia somos nós porque se a Ucrânia cair a segurança da Europa desmorona-se. Por isso cito Eça de Queiroz: "O coração é o que faz o caráter".
52 - A FORÇA MORAL DE QUEM DEFENDE O SEU TERRITÓRIO. Todos os dias os ucranianos nos têm dado uma prova eloquente de como isto pode ser verdade. A força moral de quem defende o seu território, a sua terra, a sua nação é muito mais poderosa do que a miséria moral de quem agride sem razão.
53 - NÃO HÁ ESPAÇO PARA "WHATABOUTTISM". Depois de Mariupol, depois de Bucha, depois de Borodianka, depois de Chernihiv, não pode haver espaço para "whatabouttism": para este caso não interessa "o que os americanos fizeram no Iraque em 2003", ou o "que a NATO fez na Jugoslávia no início dos anos 90". Estamos em 2022 e isto é a guerra na Ucrânia. Não há dúvidas e não pode haver hesitações morais: há um agressor - a Rússia -- e há um agredido, massacrado, a Ucrânia. Ponto.
54 - A PRIMEIRA GUERRA "EM DIRETO" EM QUE ESTAMOS DO LADO DO AGREDIDO. "Querem paz ou querem ar condicionado?" (Mario Draghi). Esta não é a primeira guerra "em direto". Mas é a primeira guerra que estamos a acompanhar em direto em que estamos do lado do agredido. E isso faz toda a diferença.
55 - PUTIN NÃO ANTECIPOU OS EFEITOS DA REAÇÃO INTERNACIONAL. Putin terá menosprezado os efeitos disto não ser comparável ao que já fez na Chechénia ou na Síria; desta vez, as reações do mundo ocorrem, literalmente, ao minuto. O agressor tem táticas e procedimentos do século XX; o agredido tem do seu lado milhões de cidadãos de todo o mundo que pressionam os seus líderes a ajudar a Ucrânia, graças a meios tecnológicos do século XXI.
56 - A MÁ EXPERIÊNCIA DE 1994. A questão-chave é: não se negoceia sob bombas e é preciso criar algum tipo de confiança entre as partes. Ao aceitar a neutralidade e ao abdicar do desejo de entrar para a NATO, a Ucrânia precisa de garantias para a sua segurança. Veremos se países como Itália, Turquia ou Grécia podem ter um papel nesse caminho. A má experiência de 1994, em Budapeste, é sério aviso a Kiev: na altura, a Ucrânia aceitou abdicar da sua nuclearização, endossando à Rússia a posse armas nucleares que supostamente assegurariam a defesa dos ucranianos: viu-se o que aconteceu e o ponto onde estamos neste momento.
57 - A RÚSSIA JÁ PERDEU. MESMO QUE GANHE TERRITÓRIO. E PUTIN, COMO PODE SAIR DISTO? "Nenhuma palavra pode descrever o que vi e senti" (Ingrida Simonyte, primeira-ministra da Lituânia, depois de ter visitado Borodyanka). Em várias dimensões, a Rússia já não pode sair bem: mesmo que agora vença a batalha do Donbass e do Sul, isto não será esquecido.
58 - A RÚSSIA VAI DEIXAR DE TER LUGAR À MESA ENTRE AS POTÊNCIAS RESPEITÁVEIS, COM QUEM SE PODE LIDAR. Será uma espécie de Coreia do Norte em ponto gigante, à porta da Europa (em parte nela, na verdade); Moscovo terá um problema de reputação para décadas, gerações. Vai sair disto com um atraso de vários anos, um recuo ao pior da URSS.
59 - E PUTIN? Tentou com esta jogada fazer da Rússia um "novo Império do Meio", na cada vez mais clara dualidade EUA/China. Mas errou completamente na análise e, sobretudo, na dose.
60 - O QUE PODEMOS ESPERAR DA CHINA? "A história e a prática provaram que as sanções não resolvem problemas e podem até criar problemas novos" (Zhao Bentang, embaixador da China em Portugal). Mais do que ambígua, a posição da China é equívoca.
61 - PEQUIM NÃO DESCARTA DAR APOIO MILITAR À RÚSSIA. A China recusa-se a condenar Putin e a agressão russa nos moldes em que o Ocidente está a fazer e tem com Putin em comum a crítica às sanções económicas; no entanto, Biden e Xi terão encontrado pontos de entendimento importantes no telefonema de duas horas: China e EUA estão juntos no objetivo de acabar com a guerra; os chineses não abdicam de agir à sua maneira - no seu tempo próprio e com um distanciamento em relação ao conflito que os países da NATO obviamente não podem ter; Pequim garante que não está a dar assistência militar à Rússia - desmentindo assim acusações de EUA e, mais recentemente, também da UE. Mas o embaixador da China nos EUA, Qin Gang, não descartou definitivamente a possibilidade de Pequim fazer isso no futuro.
62 - A CHINA TEM O SEU PRÓPRIO OBJETIVO: 2049. Ser a maior potência mundial em todos os domínios quando do centenário da fundação da República Popular Chinesa. Tem, por isso, duas décadas e meia para atingir esse desígnio. O Presidente Xi, a caminho de terceiro mandato a confirmar em outubro, olha a longo prazo, não tem pressa, não quer tanta imprevisibilidade.
63 - EUA E UE MAIS RELEVANTES PARA A CHINA. Sim, a China precisa da Rússia: 150 mil milhões dólares relações comerciais/ano... Mas precisa muito mais dos EUA e da EU: 750 mil milhões dólares relações comerciais/ano China/EUA; 800 mil milhões dólares relações comerciais/ano China/EU.
64 - O GRANDE RISCO: QUE O TEMPO E A REPETIÇÃO NORMALIZEM O HORROR. "Ninguém consegue ficar espantado durante semanas. Ninguém aguenta. Isso não seria humano" (Gonçalo M. Tavares). O prolongar do conflito leva a uma fadiga mediática, o passar dos dias pode "normalizar" o visionamento dos bombardeamentos, dos mortos, da destruição. O que vemos nas imagens das cidades bombardeadas, dos corpos de civis carbonizados não nos parece real. Equivale ao que vimos durante anos apenas nos filmes - e a sua repetição, em vez de aumentar o nosso alerta de indignação, acaba por retirar gravidade a cada evento inaceitável.
65 - ATÉ QUANDO A COESÃO SE MANTERÁ? Isso pode levar ao fim da coesão do espaço NATO e da UE na resposta pronta; como manter os eleitorados desses países focados na condenação à Rússia e na disposição em fazer sacrifícios em nome da defesa de valores comuns? Será que já percebemos a importância da Defesa e da Segurança e a necessidade de conjugar esses desafios com o Bem Estar (o que fica das despesas sociais e do Lazer na redefinição dos orçamentos nacionais?).
66 - QUEM VAI PAGAR O QUE A RÚSSIA ANDA A ESTRAGAR HÁ MEIA CENTENA DE DIAS NA UCRÂNIA? "Precisamos de árbitros ou então acabamos todos na violência e na barbárie" (Hannah Arendt). Consórcio de advogados ucranianos e internacionais lança ação civil coletiva contra o Estado russo, bem como empresas militares e empresários que apoiam os esforços de guerra. O objetivo é ganhar compensação financeira para vítimas ucranianas da guerra. A estratégia passa por lançar ações em diferentes jurisdições. Apesar de ser um caso privado - sem relação com o Estado ucraniano - vai requerer acesso a provas.
67 - UMA GUERRA DIFERENTE DAS OUTRAS. Todas as guerras são horríveis e infames. Esta tem características diferentes das outras. Pela total inexistência de motivos objetivos por parte do agressor. Pela desproporção de meios. Por ser em território europeu. Pela grande identificação que temos com o agredido.
68 - EXTERMÍNIO, NÃO "LIBERTAÇÃO". Putin quer exterminar o povo ucraniano. A sua identidade. O seu futuro. No discurso de 21 de fevereiro considerou que a Ucrânia não devia existir.
69 - E AS CRIANÇAS, SENHOR (I)? A Rússia "remove à força tanto adultos como crianças. Zelensky acusa: "Este é um dos crimes de guerra mais hediondos da Rússia. No total, mais de 200.000 crianças ucranianas foram deportadas até à data. São crianças órfãs, com pais ou separadas das suas famílias".
70 - E AS CRIANÇAS, SENHOR (II)? Desde o início da guerra na Ucrânia, foram deportadas mais de 234 mil crianças para a Rússia e a Bielorrússia, assim como para os territórios ocupados de Luhansk e Donestsk, segundo dados adiantados pelo Governo ucraniano.
71 - DEPUTADO RUSSO APONTA CONQUISTA DO DONBASS PARA JULHO. O chefe do Comité Internacional da Duma russa, Leonid Slutskiy, diz que a Rússia pode anexar a região de Kherson e as Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk já em julho.
72 - PUTIN FALA COM A UNIÃO AFRICANA. O chefe do Estado do Senegal e presidente em exercício da União Africana está a deslocar-se à Rússia para conversações com o homólogo russo, Vladimir Putin, em Sochi, na sexta-feira, disse o gabinete de Macky Sall. Esta visita "faz parte dos esforços da atual presidência da União para contribuir para a pausa na guerra na Ucrânia, e para a libertação de 'stocks' de cereais e fertilizantes, cujo bloqueio afeta particularmente os países africanos", de acordo com a mesma nota.
73 - DUAS HORAS DE FELICIDADE. A vitória da Ucrânia sobre a Escócia no playoff para o Mundial foi, nas palavras de Zelensky, um momento de "duas horas de felicidade a que não estamos habituados desde o início da guerra".
74 - A ESLOVÁQUIA TAMBÉM AJUDA. A Eslováquia vai entregar oito obuses auto-propalados Zuzana 2 à Ucrânia, de acordo com um contrato comercial assinado com o produtor de armamento sob controlo do Estado eslovaco. Os obuses Zuzana 2 são uma versão modernizada de um modelo mais antigo, usam munições de 155mm e têm um alcance efetivo entre 40 e 50km, dependendo do tipo de munições.
75 - PAÍSES BAIXOS ANUNCIAM MAIOR INVESTIENTO EM DEFESA DESDE A GUERRA FRIA. O governo dos Países Baixos anunciou o maior investimento em defesa desde a Guerra Fria, destinando a partir de 2026 ao setor mais 5.000 milhões de euros para travar ameaças globais, como a guerra na Ucrânia. Por insistência do Parlamento holandês devido à invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro, o Governo tomou a decisão de adicionar um total de 14,8 mil milhões de euros ao orçamento da Defesa entre 2022 e 2025, permitindo ao país cumprir o padrão da NATO de destinar ao setor 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 e 2025. A partir de 2026, o orçamento crescerá estruturalmente cinco mil milhões de euros, o que representa "um grande investimento, cerca de 40% do orçamento estrutural atual".
76 - 70% DOS DINAMARQUES VOTAM A FAVOR DA ADESÃO À PESC. Os dinamarqueses votaram a favor da adesão à Política Comum de Segurança e Defesa da União Europeia. 69,9% dos eleitores votaram no referendo a favor da proposta do governo, enquanto 33,1% votaram contra. A Dinamarca era a única nação da UE que não integrava a política de segurança e defesa do bloco europeu. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, disse que os resultados são "um sinal claro" para Putin.
77 - INEFICÁCIA. A Rússia precisou de quase três meses para tomar Mariupol, uma cidade de dimensão média. Falhou rotundamente a capital, Kiev, e deixou escapar a segunda maior cidade, Kharkiv.
78 - NOVO FÔLEGO. A Rússia endureceu ataques no Donbass, com mais artilharia, armas mais pesadas, mais mortos em áreas pequenas. Ganhou posições nas últimas duas semanas - mas está longe de ter a batalha pelo Leste da Ucrânia como vitória certa.
79 - MISTÉRIO. Duas semanas antes da guerra, Biden terá recebido "intelligence" a garantir-lhe que a Rússia ia fazer "minor incursions" em território ucraniano, sobretudo no Donbass. Quatro dias antes, o Secretário de Estado Blinken já falava, na ONU, num "provável ataque a Kiev pela Bielorrússia". O que terá feito Putin mudar de ideias em poucos dias, transformando um primeiro plano de "Donbass com esteroides" numa opção maximalista de querer tomar a Ucrânia toda?
80 - ODESSA, A DESEJADA. Será aquela que é para muitos a mais bela cidade ucraniana - maior porto marítimo e terceiro principal centro urbano - também o "fiel da balança" quando chegar a hora da verdade? O que terá levado os russos a evitar bombardear Odessa de forma mais significativa, tendo em conta o que já fizeram em Mykolaiv, Kherson ou Kharkiv.
81 - (DES)CONFIANÇA. Von der Leyen deixou de confiar na Rússia e passou a exigir caminhos alternativos para que a UE deixe de estar dependente de um país que opta pela força bruta, em detrimento de relações de confiança.
82 - QUATRO PILARES. Poupar (energia). Diversificar (fontes). Investir (em renováveis). Financiar (a reconversão). Eis o plano com quatro pilares que a presidente Von der Leyen apresentou para acabar com a dependência do petróleo russo.
83 - PERDA DE PRESTÍGIO. A Rússia perdeu prestígio, reputação, moral. Não é coisa pouca.
84 - A RÚSSIA PÓS AGRESSÃO. Que tipo de comportamento terá? Estará condenada a ser um "bully" arrogante por décadas?
85 - E A UCRÂNIA COM O VIZINHO RUSSO? Que tipo de relação poderá existir entre vizinhos tão grandes, interligados e marcados de forma tão profunda por esta ferida inacreditável?
86 - DIFICULDADES MILITARES PODEM EVITAR OUTRAS AVENTURAS. Os problemas russos no plano e nas operações na Ucrânia podem servir de garante para Moldávia, Geórgia, Polónia, Roménia e os bálticos: não se vê como a Rússia, sem resolver tão cedo a Ucrânia, pudesse avançar com ataque convencional a esses países. Ao menos isso.
87 - TÃO IMPORTANTE ESTAR LÁ. O que vemos todos os dias nas notícias já é mau e chocante. Mas quem está lá fica com uma perceção bem maior das atrocidades cometidas. Nunca foi tão importante ter jornalistas no terreno a testemunhar. Oito deles já perderam a vida ao prestar esse serviço inestimável - o último dos quais foi o francês Frédéric-Leclerc Imhoff.
88 - CONTROLO ORWELLIANO. A Rússia nega com palavras o que faz no terreno. Chega a fazer mais: inverte o ónus - acusa a Ucrânia dos crimes que os russos somam na invasão. É um universo orwelliano, em que a verdade é transformada pela linguagem, imposta à força pela lei do agressor.
89 - BIDEN DIZ QUE EUA NÃO VÃO DAR À UCRÂNIA SISTEMA DE ROCKETS DE LONGO ALCENCE, RÚSSIA SAÚDA DECISÃO AMERICANA. Indicação de Biden foi bem recebida em Moscovo; Rússia saúda decisão dos EUA de não enviar para a Ucrânia sistemas de armas que possam atingir o país. O vice-chefe do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, caraterizou a decisão de Washington como "racional".
90 - EUA E REINO UNIDO DÃO SISTEMAS DE ROCKETS DE MÉDIO ALCANCE. Dois dias depois da "nega" de Biden a Zelensky sobre os MLRS (alcance de 150 a 300 kms), EUA e Reino Unido anunciam envio de sistemas de médio alcance (70 a 90 kms). Lavrov avisa: isto é admitir que um "terceiro país" entre no conflito.
91 - NATO: O QUE PODE DEMOVER A TURQUIA DE VETAR FINLÂNDIA E SUÉCIA? Garantias sobre refugiados curdos (Erdogan quer negociar com suecos e finlandeses, numa espécie de troca perante o possível recuo no veto); intervenção americana nas negociações pode ser decisiva (Turquia deixou de ter acesso aos F35 por ter comprado sistema anti-aéreo russo S400, pretenderá voltar a poder comprar material americano).
92 - EUA CRIAM OBSERVATÓRIO PARA RECOLHER, ANALISAR E PARTILHAR PROVAS DE CRIMES DE GUERRA NA UCRÂNIA. Anúncio da Administração Biden, para já com financiamento inicial de seis milhões de dólares.
93 - TENDÊNCIA PARA "CONFLITO CONGELADO": PUTIN A PREPARAR-SE PARA GUERRA PROLONGADA. Teses de que o foco estaria no Donbass e de depois desta batalha nas próximas semanas o conflito poderia terminar ou, pelo menos, clarificar-se parecem pouco credíveis. Vai ganhando força a ideia de que Putin esteja a preparar-se para manter 130 a 150 mil tropas russas em território ucraniano, congelando o conflito para algo de longa duração, sem um vencedor ou vencido definido, possivelmente com momentos de negociação, mas sem sequer haver algo parecido com um "acordo de paz" (até porque a Rússia nem sequer reconhece que está em guerra). Informação americana e britânica reforça ideia de que os avanços russos no Donbass estão muito aquém do que o Kremlin esperava.
94 - BANCO EUROPEU DE RECONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO PREVÊ QUEDA DE 30% DO PIB DA UCRÂNIA E 10% NA RÚSSIA. Esses dados ajudam-nos a quantificar a dimensão das perdas provocadas pela guerra. Em março, O BERD previu queda de 20% da economia ucraniana, mas o valor situa-se agora nos 30% de perdas, esperando que em 2023 o PIB aumente 25% contando com o fim do conflito e o início dos esforços de reconstrução dos territórios afetados pela invasão militar da Rússia.
95 - 9 DE MAIO MOSTROU DOIS MUNDOS OPOSTOS: RÚSSIA BELICISTA, AGRESSIVA E MILITARISTA; EUROPA UNIDA NA IDEIA DE REFORÇA VALORES COMUNS. Macron fez questão de mostrar força do eixo franco-alemão indo a Berlim no arranque do segundo mandato apresentou proposta que agradou a Scholz de criar um novo órgão com força política que junte as democracias europeias e vá para lá da UE, agregando assim Reino Unido (apesar do Brexit) e Ucrânia (prevendo assim que adesão de Kiev à UE possa ainda demorar vários anos).
96 - REFLEXÃO FINAL (I). "Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações - a dos vivos e a dos mortos" (Mia Couto). É disto que me lembro quando vejo as imagens de Bucha ou Mariupol.
97 - REFLEXÃO FINAL (II). Não pode haver precedentes que sinalizem aos líderes autoritários que vale a pena romper com qualquer regra internacional; se a agressão de Putin tiver sucesso não será só a Ucrânia que verá os seus sonhos destruídos e a sua integridade violada.
98 - REFLEXÃO FINAL (III). Seremos todos nós, que desejamos continuar a viver num mundo de Liberdade, segurança e bem-estar que seremos atingidos. Vamos perder todos.
99 - O QUE ACONTECER NA UCRÂNIA NÃO FICARÁ NA UCRÂNIA. Que ninguém duvide disso.
100 - PROGNÓSTICOS? Nem depois da guerra.
*autor de cinco livros sobre presidências norte-americanas