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Daniel Oliveira condena o objetivo do Hamas e dos apoiantes de Benjamin Netanyahu de "não deixar espaço para a decência" e defende que "todos têm de ser claros contra a censura e na defesa do pluralismo".
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No seu espaço habitual de Opinião na TSF, o jornalista começa por dar vários exemplos:
"Steve Bell, que publicava os seus cartoons no The Guardian há 40 anos, foi afastado e acusado de antissemitismo por ter enviado um cartoon de Benjamin Netanyahu, inspirado noutro de David Levine sobre Lyndon Johnson e o Vietname. O futebolista Benzema escreveu 'todas as nossas orações pelos habitantes de Gaza, que são mais uma vez vítimas destes injustos bombardeamentos que não poupam mulheres nem crianças'. Esta frase, que qualquer pessoa decente subscreve, chegou para que o ministro do Interior o acusasse, sem provas, de estar ligado à irmandade muçulmana e uma senadora ameaçasse tirar a bola de ouro e nacionalidade francesa a quem nasceu em Lyon. A entrega de um importante prémio à escritora palestiniana Adania Shibli na Feira do Livro de Frankfurt foi cancelada. A obra, um detalhe menor, passa-se em 1949, um ano depois da Nakba, quando 700.000 palestinianos foram expulsos das suas terras."
Para o comentador, "até a memória é criminalizada". Daniel Oliveira recorda que "o embaixador de Israel em Portugal lançou o movimento de cancelamento do Web Summit, porque o seu fundador mostrou preocupação com o assassinato em massa de civis palestinianos e criticou Israel".
"Os que costumam queixar-se de cancelamentos vieram em apoio deste, porque Paddy Cosgrave não teria condenado o Hamas. É falso, escreveu preto no branco que o que Hamas fez é escandaloso e repugnante", sublinha, acrescentando: "Curiosamente, o embaixador ofendido é o mesmo que disse que não temos uma crise humanitária em Gaza."
Paddy Cosgrave acabou por se demitir depois da Amazon, Google, Meta e Intel, "tudo empresas conhecidas pelo absoluto desprezo pelos direitos humanos e a democracia, terem prometido abandonar a Web Summit". Daniel Oliveira nota que "nem Greta Thunberg escapou à fúria censória".
"Em nenhum dos casos houve a mais leve insinuação de tolerância para com o Hamas. Houve a denúncia do indiscutível crime de guerra e a defesa do direito internacional e de uma centena e meia de resoluções da ONU desde 2015", considera.
Do ponto de vista do cronista, "os que alimentam a perseguição a grupos étnicos ou religiosos através da culpa coletiva filiam-se na tradição dos que sempre espalharam antissemitismo pela Europa. Os que querem silenciar a divergência também".
"Os alvos podem mudar, a cultura é a mesma. Com a ajuda de oportunistas e radicais, o objetivo do Hamas, acompanhado pelos apoiantes de Netanyahu, é não deixar espaço para a decência. Seja qual for a posição de cada um sobre este complexo conflito, é neste momento que todos têm de ser claros na defesa do pluralismo, da liberdade e da democracia", remata.
Texto redigido por Carolina Quaresma