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A Guerra russa na Ucrânia dobrou o cabo do seu primeiro ano na sexta-feira e, nesse mesmo dia, a República Popular da China divulgou um documento com o seguinte título: «Posição da China sobre a Resolução Política da Crise da Ucrânia».
Dois aspectos saltam imediatamente à vista: a formulação desta Posição Política e a opção pela palavra «Crise» e não a óbvia, ou seja, Guerra. Porquê agora? O momento também se explica pelo facto da Turquia, até aqui o país que mais investiu numa eventual mediação da Guerra, estar virada para dentro devido à catástrofe humanitária pós-terramotos.
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O documento em si consiste apenas em 12 pontos. Para além da retórica e daquelas expressões redondas como «comunidade internacional» vale a pena destacar dois aspectos.
O primeiro está relacionado com a dimensão nuclear (e também química e biológica) desta guerra. É, obviamente, muito positivo que Beijing reitere a essência do que disse ao Chanceler alemão em Novembro, nomeadamente, que «ameaças nucleares são irresponsáveis e incendiárias».
Em segundo lugar, encontramos a seguinte pérola no ponto 10: «sanções unilaterais e pressão máxima não conseguem resolver a questão; apenas dão origem a novos problemas. A China opõe-se a sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU».
Uma proposta destas, tendo em conta o que se passa na Ucrânia, só pode beneficiar claramente o invasor, ou seja, a Federação russa, que é membro permanente desse mesmo Conselho de Segurança.
Aliás, nesta matéria é evidente a preocupação da China com a capacidade de liderança dos EUA e a articulação com os seus aliados em matéria económica e financeira. Para Beijing, é um dos aspectos a ter em conta num eventual conflito com Washington agora de forma reforçada.
E, em jeito de remate final, quero salientar que este documento é uma prova do maior protagonismo da China no mundo. Mas será um passo certo no sentido do fim da Guerra? À primeira vista, nem por isso. Temos de esperar pelas próximas iniciativas de Beijing.