"A Opinião" de Nádia Piazza, na Manhã TSF.
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A força do movimento dos "coletes amarelos", em França surpreende pela dimensão e pelo potencial efeito de contágio por toda a Europa e não só - no Egito, p.e. já seu proibiu a venda de coletes amarelos nos mercados.
Enquanto em França teme-se mais violência nas ruas, a causa tem-se estendido por toda a Europa, da Alemanha à Sérvia, passando pela Bélgica e a Holanda.
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Milhares de franceses, envergando "coletes amarelos", estão a manifestar-se nas ruas há um mês, bloqueando rotundas e autoestradas, primeiro contra aumento de imposto sobre combustíveis, mas a pauta é mais vasta.
O movimento dos "coletes amarelos" francês foi sendo construído por fases, de forma não orquestrada, sem líderes visíveis, a palavra é potenciada pelas redes socais e o que une franceses pelo País a fora são as expectativas frustradas criadas pelas políticas governativas de Macron.
Tudo começou em outubro com um vídeo de uma desconhecida no Facebook, que denuncia uma perseguição aos motoristas. O vídeo tornou-se viral e a petição "Pela redução do preço sobre os combustíveis", lançada em maio por uma comerciante de cosméticos, superou 1 milhão de assinaturas. Seguiram-se as convocações para bloquear as estradas.
A segunda fase foi a mobilização geral e o primeiro dia de protestos com bloqueios em estradas e rodovias, reúne cerca de 290 mil manifestantes em toda a França, em uma ação incomum, organizada fora de qualquer partido ou sindicato.
Não há um líder absoluto do movimento, a desconfiança é total e, sem protocolo transparente, a classe política, habituada a reuniões e conferências estéreis, é apanhada pelo inédito e inusitado. Não têm interlocutor porque são toda a gente e rosto nenhum. Não há o um que fala pelo todo, mas o todo que fala para um, Macron.
O terceiro grande dia de mobilizações foi uma verdadeira guerrilha urbana.
Macron anuncia uma reunião de crise e o cancelamento definitivo do aumento de impostos sobre combustível. No quarto sábado de protestos, o Paris está em estado de sítio.
Macron reconhece frente à Nação "como justa, em muitos aspetos", a "raiva profunda" dos franceses, e cede exceto no Imposto Solidário sobre a Fortuna, uma das principais exigências dos ativistas.
Insatisfeitos com os anúncios, os "coletes amarelos" convocam novos protestos para o sábado seguinte, dia 15 de dezembro, amanhã portanto.
Mais do que um grave conflito social, a França atravessa uma crise política. Macron prometeu melhorar o funcionamento da economia diminuindo, ao mesmo tempo, as fraturas sociais, e fracassou.
Movimentos como os "coletes amarelos" emergirão enquanto a classe política estiver dissociada na realidade do País.
São movimentos sem líderes, fundados na frustração, que adotam um elemento identitário que os aglutina, no caso, os "coletes amarelos", uma espécie de uniforme. Sem o colete amarelo, são apenas cidadãos. Com o colete amarelo são cidadãos legitimados pelo coletivo e ativistas, motivo de orgulho.
A verdade é que podem não ter bandeiras ou estandartes, mas têm muitos pés e braços e, já agora, veem bem de noite!