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A entrevista do Presidente da República acabou logo na primeira frase. "Esta é uma maioria requentada e cansada". Marcelo, não satisfeito com a formulação que tinha pensado, acrescentou: "como a segunda maioria de Cavaco Silva". Um minuto depois de ter começado, a entrevista que marcava os sete anos de Marcelo em Belém estava acabada. Marcelo já não confia neste governo, não leva a sério esta maioria e não lhe augura nada de bom.
"Hoje até não estou a pôr a mão muito por baixo". Não estava, de facto. Do governo, entenda-se. Politicamente, Marcelo confessou estar "de pé atrás" com a capacidade do e executivo para "reconstruir e reinventar Portugal" e de promover a coesão social, precisamente o caderno de encargos que traçou para a maioria quando, há dois anos, tomou posse para o segundo mandato.
Também deixou claro que "se o PM sair a meio do caminho há dissolução", e ao contrário do passado - "não serei líder do PSD bem que Cristo desça à terra", disse semanas antes de ganhar a liderança do seu partido em 1995 - confessa que já "nunca diz nunca" e deixou claro que até ao dia 9 de setembro de 2025 tem o poder de dissolução, e que dele "não abdico".
Dito tudo isto, Marcelo espera por uma alternativa "política". Alternativa "aritmética" as sondagens dizem que já existe, mas não há um "partido forte e liderante" no hemisfério direito. Vai esperar para ver como se sairá Montenegro. Ao contrário do prometido pelos entrevistadores, acabou por não falar de Passos Coelho. E deixou ainda um aviso a Medina, por causa da TAP. O caso não obriga a mais "consequências políticas", mas deixa "efeitos políticos".
Marcelo matou, hoje, o governo e a maioria. E, agora, espera para ver o que se segue. Se a opinião pública vai atrás dele, ou se Montenegro consegue ser o líder com ascendente claro da direita. Ou isso ou... Passos Coelho. Que, não estando nas perguntas, nem nas respostas, esteve no pensamento. De Marcelo e de Montenegro.
