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Não é um drama, e muito menos o fim do mundo, o país ser gerido em duodécimos. Mas, de preferência, que seja por pouco, muito pouco tempo. Gerir uma nação em duodécimos é trabalhar em cima de um plano e de uma visão de curtíssimo prazo. Gerir em duodécimos é contar os tostões na carteira a cada mês - e muitas famílias não têm alternativa que não seja sobreviver deste modo, mas o Estado não o deve fazer, se quiser olhar a médio ou longo prazo.
Até porque há contas para pagar, como ou sem duodécimos. Vejamos alguns exemplos:
8832 milhões de euros de amortização de obrigações do tesouro,
6901 milhões de euros de juros a pagar a credores,
148 milhões de euros de atualização automática de pensões,
285 milhões de euros de indemnizações decorrentes de processos em tribunal,
990 milhões de euros de apoio financeiros do Estado à TAP ( segunda fatia)
597 milhões de euros para o Novo Banco que invoca o Acordo de Capitalização Contingente
(Estes e outros números estão hoje no Dinheiro Vivo, em banca com a habitual edição do Diário de Notícias.)
Com os sem duodécimos, estas são despesas que têm que ser liquidadas.
É preciso arrumar a casa portuguesa, clarificar a situação política e começar a olhar a sério para a economia. Se o país tiver de ir para eleições antecipadas - e a faca e o queijo estão agora nas mãos do Presidente da República -, que se avance rápido e se marque uma data.
A crise política de hoje, a anunciada dissolução do parlamento, as prováveis eleições legislativas antecipadas, a tomada de posse de um novo Executivo e, depois, todo o caminho que há a percorrer até ser apresentado um novo OE criam angústia na economia e reduzem a oportunidade de aplicar na íntegra, com celeridade e critério, os fundos da bazuca.
Resta acreditar que tanto teatro parlamentar terá servido para alguma coisa. Para abrir caminho ao centro e à direita, será? Não é seguro. Mas, no mínimo, que se alcance a clarificação da situação política e se redefinam os caminhos do poder.
Depois de meia dúzia de anos em que assistimos aos apelos dos órgãos de soberania em prol da estabilidade, da cooperação institucional e da recuperação económica, é importante que nenhum desses órgãos se esqueça da sua missão maior: o país. Mais do que as guerras de bastidores dos partidos ou as batalhas de egos na corrida às lideranças, há uma incumbência acima de tudo: procurar o melhor caminho para Portugal.