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Trago à colação uma temática já aflorada num artigo do ano passado, mas que me apraz abordar com um renovado olhar, pela significância das mensagens que os dados traduzem.
Os portugueses validaram novamente o ensino público, catapultando-o para o primeiro lugar do ranking das instituições mais confiáveis, de acordo com resultados do inquérito que a revista Proteste deu a conhecer em outubro de 2021.
Esta distinção alcança maior relevo pelas razões que, se seguida, aludo:
1. O lugar conquistado - não se apresentando como uma competição, a posição cimeira alcançada nesta graduação é de crucial importância, aumentando a responsabilidade de quem, todos os dias, faz os (im)possíveis para que a Escola Pública efetive a sua função com nota elevada: professores, técnicos especializados, assistentes técnicos e operacionais, alunos, encarregados de educação, autarquia e tutela comprometidos com as atividades e os deveres respetivos.
2. Os nomeados - os lugares que se seguiram foram ocupados por instituições de peso: Presidente da República, Exército, Polícia, Serviço Nacional de Saúde, RTP, Câmara Municipal, OMS, ONU, Meios de Comunicação privados, Indústria Farmacêutica, Parlamento Europeu, Igreja Católica, Governo, Assembleia da República, Comissão Europeia, Banco de Portugal, Autoridade da Concorrência e Sistema Judiciário. O significado do lugar conquistado pelo sistema de ensino público permite-lhe sair ainda mais valorizado tendo em conta a qualidade e relevância dos intervenientes.
3. O timing escolhido - a divulgação dos resultados obtidos coincide com o momento crítico da pandemia, durante o qual as escolas nunca encerraram, fazendo emergir outras vertentes até aí parcialmente conhecidas:
Acolheram - os filhos dos profissionais essenciais, entre outros alunos, acompanhados diariamente nas escolas, que lhes asseguraram as condições necessárias para as atividades e, acima do mais, a tranquilidade e o bem-estar emocional decorrentes da atipicidade vivida;
Ensinaram - na escola, nos lares dos alunos e professores, o processo ensino-aprendizagem desdobrou-se em várias frentes, agora com recurso a material digital (inicialmente escasso) acomodado pelas escolas, associações de pais, autarquias e outras instituições;
Alimentaram - foi garantido a muitos dos alunos que se encontravam em casa o almoço quente e completo, que levantado na escola lhes proporcionava esta refeição essencial;
Cuidaram - em muitos estabelecimentos de ensino (re)nasceram os bancos alimentares, que, em iniciativas de marcada solidariedade e humanismo, preocuparam-se em dotar os lares das crianças e jovens com os bens alimentares, de higiene e vestuário tão necessários.
Estas e outras ações são dignas de realce, apresentando-se como contributos incontestáveis para a elevação da qualidade do sistema de ensino público, decorrente do profissionalismo e empenho de todos e tantos que se uniram e souberam dar o seu melhor. A confiança é essencial em qualquer instituição, é a premissa de base que subjaz às interações e relacionamentos entre as pessoas que a servem ou com quem se relaciona, permitindo estabelecer pontes, empreender parcerias colaborativas, organizar respostas e projetos inovadores, recorrentes no sistema de ensino público, e quantas vezes injustiçado.
Saibamos merecer o reconhecimento, cientes de que podemos orgulhar-nos do trabalho diário que é realizado nas nossas escolas e que nos desafia a fazer ainda melhor.