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Daniel Oliveira considera que Portugal ainda tem condições para conter a propagação do novo coronavírus. No espaço de comentário que ocupa semanalmente na TSF, o jornalista equacionou a hipótese de Portugal conseguir ter um cenário mais próximo daquele que se vê na Alemanha do que daquele que se vive em Itália.
O comentador diz compreender a hesitação inicial das autoridades portuguesas na resposta à Covid-19. Daniel Oliveira nota que era difícil tomar medidas perante o desconhecimento inicial da gravidade do novo coronavírus, o risco de criar o pânico e os custos económicos que tais medidas implicariam.
"Só um irresponsável não tinha resistência em avançar com estas medidas. Estas medidas vão ser pagas. Vão ser pagas em empregos e em crise económica, portanto, é normal que sejam ponderadas até ao limite", afirma o jornalista.
Daniel Oliveira classifica como "ridículo" que haja quem peça a demissão da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, e sublinha que nenhum país estava preparado para uma epidemia desta natureza.
Aquilo que o comentador critica são as "mensagens contraditórias" que foram passadas pelos decisores. "Ao mesmo tempo que se fechavam escolas, havia concertos a acontecer com milhares de pessoas", nota. Outro exemplo apontado é o facto de os passageiros que chegavam de Itália não serem obrigados a ficar em quarentena, e, de um momento para o outro, suspender-se imediatamente todos os voos para Itália.
E a situação mais flagrante de todas terá sido a do Presidente da República, que "andou a dar beijos a meio mundo, passou uma péssima mensagem do que era preciso fazer do ponto de vista da prevenção, e, no dia seguinte, passou para uma quarentena".
Apesar disso, Daniel Oliveira lembra que estamos ainda na fase de "retardar a passagem de surto para epidemia" e acredita que "ainda vamos a tempo de garantir esta contenção" do vírus.
"É claro que vai haver muitos infetados; muito provavelmente vai haver mortes, é praticamente inevitável", constata o comentador. Porém, nos últimos dias parece ter havido "um sobressalto", com "medidas mais restritivas nos hospitais e nos lares, encerramento de universidades, novos critérios para testes, um plano de contingência e medidas económicas". É que isso que leva o comentador a crer que Portugal ainda está em condições de decidir se "vai ser mais como a Alemanha ou como a Itália".
Mas fica um recado: nenhuma das medidas do Governo terá qualquer efeito, se cada cidadão não fizer a sua parte: "lavar as mãos, manter a distância social e adotar um comportamento preventivo".
"O que pode garantir mais a contenção é o comportamento quotidiano de cada um de nós", alerta. "Exigir que o Governo tome estas medidas e, depois, cada um de nós continuar a fazer a sua vida normal serve de muito pouco."
Texto: Rita Carvalho Pereira