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Ausente de Portugal nas duas últimas semanas fui vendo o que acontecia no país, sem grandes cuidados profissionais. Queria apenas saber com que linhas se cosia a atualidade para preparar o regresso. Parti no exato momento em que se demitiu mais um membro do governo, suspeito de corrupção, e preparo-me para regressar com o ex-líder da oposição sob suspeita de ter levado o seu partido a fazer o que todos fazem há várias décadas.
Tendo em conta que os grupos parlamentares só existem para fazer o que os partidos mandam, que seja o Parlamento a pagar os assessores que os partidos contratam. Dessa forma, enganam os portugueses, e financiam duplamente os partidos com dinheiros públicos.
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Pelo meio, logo a seguir à demissão do governante alegadamente corrupto, um ministro criticou os deputados, o que acabou por ter o efeito de cortina de fumo, passando a demissão do secretário de Estado a valer apenas uma nota de rodapé.
Tanto se falou de Parlamento que, visto de fora, até pode parecer que o povo elege quem decide. Mas o relatório amnésico da CPI da TAP mais a entrevista do seu ex-presidente vieram mostrar, uma vez mais, que são os diretórios partidários quem decide tudo o que se passa na Casa do Povo.
Sendo um experimentado comentador, Pedro Adão e Silva parecia um ex-fumador a queixar-se do fumo de quem ainda não largou o vício. Mas errou o alvo, porque o circo mediático é dirigido pelos núcleos duros dos governos, pelos partidos, de fora do Parlamento, nas CPI's ou no plenário. Com a devida colaboração dos media, é verdade. O relatório encomendado pela direção do PS é um bom exemplo disso, como no passado fez o PSD quando liderava maiorias.
O maior problema dessa CPI não foram as absurdas perguntas de alguns deputados, o stand-up de outros, as perguntas alinhadas pelos gabinetes de comunicação do PS e do PSD para os actuais governantes e para os anteriores. O maior problema maior foi mesmo a CPI ter com um relatório em que ninguém se revê. Nem mesmo o PS que o votou favoravelmente.
Quase a voltar, leio na manchete do Expresso que o Ministério da Defesa continua com muita coisa para explicar em negócios de milhões. Se a semana que vem se passar como a semana que passou, adivinho céu muito nublado para os lados da oposição.