Corpo do artigo
António Costa afirmou que estará em Kiev "quando lá chegar." Mas já todos sabemos que Roménia, Polónia e Ucrânia são os destinos de Costa desde ontem. Até há cerca de três meses os olhos de Portugal estavam postos nestes países do Leste europeu graças aos milagres económicos, ao crescimento desses mercados, às exportações e à estratégia seguida por esses destinos para atrair investimento direto estrangeiro; hoje o foco mantém-se em termos geográficos, mas a preocupação é outra: a guerra na Europa.
A visita do primeiro-ministro português já tinha sido anunciada no início do mês após reunião por videoconferência com o seu homólogo ucraniano. Agora está a desenrolar-se no terreno.
Aproveitando a deslocação a Kiev, António Costa deverá assinar um acordo de apoio financeiro de Portugal no âmbito do programa de apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) de apoio à Ucrânia.
Por falar em apoio financeiro, esta quarta-feira Bruxelas anunciou um novo auxílio macrofinanceiro de nove mil milhões de euros à Ucrânia, uma espécie de fundo de emergência, na sequência da invasão russa. A UE já tinha atribuído 1,2 mil milhões de euros de apoio. Toda a ajuda internacional é pouca face à destruição massiva em que se encontra o país de Zelensky.
TSF\audio\2022\05\noticias\19\19_maio_2022_a_opiniao_rosalia_amorim
Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, aposta numa perspetiva de atuação e financiamento de longo prazo. Reconstruir a Ucrânia é mais do que uma oportunidade de negócio ou de uma lufada de ar fresco para as empresas do velho continente. Muitas já esfregam as mãos, mas um plano de Marshall 2 é muito mais do que isso.
Reerguer a Ucrânia é uma demonstração de força europeia. É combinar investimento com reformas, mas impondo condições como o combate à corrupção e a independência do sistema judicial. Apoiar e financiar aquele país invadido é sinónimo de recentrar o papel da nação de Zelensky em jeito de tampão entre Ursula e Putin. Com ou sem adesão da Ucrânia à UE - processo de intenções que poderá não passar disso mesmo, mas só o futuro e a pressão geoestratégica o dirá -, toda a Europa precisa de uma Ucrânia renascida das cinzas, mais forte e mais resistente.
A solidariedade para com o povo ucraniano é imperativa, bem como a condenação da guerra ilegítima e brutal. Mas daí até à adesão da Ucrânia à União Europeia há um longuíssimo caminho a percorrer. Costa disse-o por outras palavras: "Não nos devemos distrair com objetivos de médio ou longo prazo quando há respostas que têm de ser imediatas."