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Da antiga reivindicação dos professores de verem contados os seis anos, seis meses e 23 dias de trabalho que não existem para efeitos de progressão na carreira, estes trabalhadores estão hoje exatamente no mesmo ponto em que estavam antes do veto presidencial. Se se iludiram, julgando que o vento soprava agora a seu favor, terão uma desilusão. Haverá algum ganho resultante deste braço-de-ferro entre Marcelo e Costa, mas o 6-6-23 continuará a ser o número de uma lotaria que teima em não sair aos professores.
A forma como a ministra Mariana Vieira da Silva anunciou alterações em tempo recorde, acordadas entre o primeiro-ministro e o Presidente, antes e depois do veto ser conhecido, não deixava grandes dúvidas sobre a inspiração no romance "O Leopardo", de Tomasi di Lampedusa, mudando alguma coisa para que tudo fique na mesma, como propôs o príncipe Fabrício procurando virar a seu favor a revolução que era feita contra si.
Marcelo terá algum ganho de causa no carácter definitivo que desaparece do preâmbulo do decreto governamental e alguns pozinhos serão acrescentados para acelerar as carreiras, mas o Presidente volta a ficar a meio do caminho. Há o sério risco de Marcelo não ficar bem nem com Deus nem com o Diabo. Do recado público com críticas duras ao governo até à solução encontrada, Marcelo esteve horas ao telefone com o primeiro-ministro. O PS - não o PS oficial mas o PS que pensa pela própria cabeça - já se tinha declarado perplexo com as críticas do Presidente e percebe que estas alterações foram feitas apenas para salvar a face de Marcelo. Os professores estavam eufóricos com a entrada a pés juntos do Chefe de Estado e percebem agora que Marcelo está a recuar. Quem ganha com este folhetim volta a ser António Costa.