Corpo do artigo
No exato momento em que António Costa anunciou ao país a abertura das creches, pré-escolar e 1.º Ciclo, uma criança, rejubilando de alegria, enviou uma mensagem em áudio, via WhatsApp, à sua educadora, pontuada por uma alegria incontida, cantarolada e afirmativa: "Cristina [educadora], 2.ª [feira], encontramo-nos na escola, eu e os meus amigos! Ainda bem, já estava farta de estar em casa. Beijinhos!"
O discurso do primeiro-ministro, ansiosamente aguardado por todos, superou as expetativas avançadas, uma vez que o desconfinamento para os alunos e professores do 1.º Ciclo estava, nas previsões de muitos, "programado" para depois da Páscoa.
Assim, na próxima 2.ª feira, as crianças e os alunos mais jovens regressarão à Escola - trazendo mochilas repletas de saudades - para a companhia dos seus professores e pares, com quem, nas últimas semanas, marcaram presença à distância, cientes que, não sendo a modalidade de ensino que desejavam, houve uma implicação e vontade expressa de todos em os ajudar a superar as dificuldades sentidas nas aprendizagens.
Considero que são os alunos mais jovens, principalmente os do 1.º Ciclo, menos autónomos, os prejudicados pelo ensino não presencial ou, melhor dizendo, pela ausência do ensino presencial, que se salda em mais de 80 dias úteis de aulas nos últimos 12 meses, o equivalente a 2 períodos letivos.
É muito tempo!
E a recuperação do défice acumulado apresenta-se como mais um desafio para a Escola Pública mitigar, exigindo intervenções consistentes e multidisciplinares ao longo dos próximos anos, merecedoras da atenção redobrada e interessada por parte de quem tutela a pasta da Educação.
Desde logo ressalta a necessidade de investir em mais recursos humanos a afetar às escolas, tanto ao nível de docentes como de técnicos especializados, através da ampliação do crédito horário e no âmbito da implementação de programas de promoção do sucesso escolar, como aconteceu já este ano letivo.
Não menos importante é o reforço da colocação de assistentes operacionais, uma reivindicação e uma luta que devemos continuar a abraçar, reconhecendo que tem sido uma área para a qual o ministério da Educação foi sensível nos últimos tempos. Contudo, é imperioso não esmorecer, principalmente pelo incremento das tarefas inerentes às suas funções, no que respeita à desinfeção e limpeza regular dos espaços escolares, apoio aos alunos e aos professores, etc., que convocam o aumento do número destes profissionais nas escolas.
Os pais e encarregados de educação também passaram por sérias provações em resultado do confinamento, incumbindo-se de realizar o acompanhamento de maior proximidade dos seus educandos no que concerne às atividades e aprendizagens escolares. Os seus testemunhos marcam pela valorização (ainda) da profissão docente, que na mesma proporção deverá ser merecedora do carinho governativo, que tarda em chegar.
Neste momento, pede-se aos pais e encarregados de educação dos alunos que regressam à escola na próxima semana, colaboração plena com todos os profissionais, e exige-se que se afirmem exemplares na deslocação ao local de ensino. É crucial o cumprimento das regras sociais adotadas que, no caso particular, obrigam à não promoção de ajuntamentos nos
espaços exterior das escolas, e a permanência em conversas amenas e agradáveis, devendo adiá-las para momentos mais oportunos.
As escolas estão devidamente preparadas para receber os seus queridos alunos, saudosas já das suas vozes, risadas, tropelias e brincadeiras, querendo ajudá-los a crescer na sua essência, com os seus interesses e motivações, a todos os níveis.
Nos próximos tempos "testar, rastrear, vacinar" ajudará a consolidar a confiança das comunidades educativas nas suas escolas, espaços que, per si, são dos mais seguros.
Por isso, comungando da alegria da criança que citei nas linhas iniciais deste texto, apraz-me dizer: "2.ª feira encontramo-nos na escola!"