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A economia está sempre a precisar de um equilíbrio que a política raramente lhe concede. Vivemos num permanente confronto de ideias sobre o papel do Estado, a política fiscal, as políticas sociais, os caminhos propostos pela esquerda e pela direita.
Como bons vendedores que são, os dois campos consensualizaram, há muito tempo, que um dos factores cruciais para o crescimento económico são as exportações, mas basta que o turismo do sol e praia cresça para se darem por satisfeitos. O problema? É um sector com muitos salários baixos.
O papel que o consumo deve ter nesse crescimento já é um factor que divide esquerda e direita, mas chegados ao ponto onde estamos, com inflação alta, todos concedem que é preciso refrear a vontade consumista. Outra consequência da inflação é a necessidade de travar alguns dos estímulos à economia, designadamente fazendo subir as taxas de juros. É o preço a pagar por um desequilíbrio brusco entre a oferta e a procura. Quem paga? As famílias e as empresas com taxas de juro em que um ou dois pontos percentuais de diferença são suficientes para levar algumas famílias e algumas empresas ao incumprimento. A dívida pública continuou a subir em valor absoluto, mantém-se muito acima do valor da riqueza produzida pelo país durante um ano e dá-nos uma sensação de falsa segurança quando desce em percentagem do PIB, por efeito do crescimento desse mesmo PIB.
Olhamos para esta história e ficamos com uma sensação de "déjà vu". E o pior dessa sensação é que, ciclicamente, somos confrontados com a triste realidade de que a nossa economia continua a precisar de reformas que não foram feitas, nem no tempo da Troika, nem no tempo da bonança. Sugiro a consulta do estudo de prospetiva "Foresight Portugal 2030" para olharmos o futuro e fazermos uma opção sobre o país que queremos ser. Pode ser visto no site da TSF ou da Gulbenkian, não é um ponto de chegada, é um ponto de partida de um debate para o qual todos estamos convocados.
O melhor que nos poderia acontecer era chegar ao fim desta década sem esta sensação de "déjà vu", satisfeitos com a nossa capacidade de fazer diferente para obter resultados diferentes.