Corpo do artigo
No primeiro dia de 2023, "um democrata voltou a receber o poder nas mãos do povo" no Brasil, destaca esta terça-feira Daniel Oliveira no seu espaço habitual de comentário na antena da TSF.
Como Bolsonaro não quis marcar presença na cerimónia de tomada de posse, Lula da Silva decidiu que a faixa presidencial lhe seria entregue por "um cacique indígena de 90 anos, guardião da Amazónia; um ativista que sofre de paralisia cerebral desde os três anos devido a uma meningite viral e se tem dedicado à luta pelos direitos dos portadores de deficiência; um menino de 10 anos desportista da periferia de São Paulo, um metalúrgico do ABC que se formou em educação física graças ao programa de financiamento estudantil; um professor de português; uma cozinheira; um artesão e uma dirigente negra de uma rede de cooperativas de coletores de resíduos para reciclagem, atividade a que se dedica desde os 14 anos".
"Todos juntos foram símbolo da diversidade do povo brasileiro", destaca Daniel Oliveira, um expediente para resolver a ausência do Bolsonaro que acabou por marcar "um corte com o passado recente."
TSF\audio\2023\01\noticias\03\03_janeiro_2023_a_opiniao_de_daniel_oliveira_democracia_acima_de_tudo,_diversidade_acima_de_todos
"A tradição brasileira do Presidente cessante passar a faixa presidencial ao que lhe sucede é um ato de humildade de quem a entrega e um lembrete para quem recebe: o poder é transitório, um testemunho que passa de mão em mão, sempre em nome do povo", mas a Jair Bolsonaro esta mensagem não dirá muito, considera o comentador.
"Quem não acredita na democracia, não respeita as suas instituições e a sua liturgia. Porque quem acha que a democracia é apenas uma forma de chegar ao poder, não compreende que os seus códigos e símbolos servem para recordar que os presidentes e os primeiros-ministros são passageiros."
Simbolicamente, "no lugar da divisão, baseada numa imagem unificada do que é ser brasileiro, onde não cabem as margens e as minorias, os miseráveis e os oprimidos", Lula da Silva recebeu "o poder dos que representam a diversidade de um país que é quase um continente, dando especial destaque aos que o anterior Presidente mais perseguiu, humilhou ou desrespeitou."
E assim, aponta Daniel Oliveira, "uniu o Brasil na sua diversidade", mas "unir o Brasil na rampa do Palácio do Planalto é mais fácil do que fora do simbolismo da tomada de posse."
O novo Presidente brasileiro tem muitos desafios pela frente: terá de conquistar os brasileiros que votaram em Bolsonaro só para o impedir que Lula voltasse ao poder, terá de recuperar as contas públicas depois de Bolsonaro, "desesperado para se manter no poder, ter gastado o que tinha e o que não tinha, deixando um legado financeiro catastrófico", terá de alcançar apoios.
E é aqui, teme Daniel Oliveira, que reside um dos grandes problemas do sistema político brasileiro: para chegar à maioria é preciso "conquistar deputados que, pertencendo a partidos sem qualquer coerência, fazem de representação política um negócio."
"A corrupção continua a ser o motor da vida política brasileira", aponta o jornalista. "Não foi com Lula, foi sempre".
Texto: Carolina Rico