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Nestes tempos de polarização tão acentuada, em que quem não concorda com um caminho é acusado de estar contra a existência de caminhos, para não ser acusado de antissemitismo e, nem sequer, de antissionismo, informo desde já que sou solidário com o povo judeu e defensor do direito a existirem enquanto nação. Israel é a pátria de todos os judeus que entenderem ter Israel como pátria. Ponto final. Parágrafo.
Coisa bem diferente é assinar por baixo tudo o que Israel faz. Mesmo o que faz em legítima defesa tem de ter a marca de humanidade que reclamam nos outros que se relacionam consigo. O facto de os judeus terem sido, durante séculos, vítimas de castigos coletivos, pelo simples facto de serem judeus, deveria impeli-los a não aceitar que outro povo, qualquer que ele seja, acabe tratado da mesma forma. É ainda menos admissível que seja o seu próprio país a fazer isso a outro povo apátrida.
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Estou com Joe Biden na desconfiança em relação ao número de mortes na Faixa de Gaza contabilizadas por aquilo que a generalidade da comunicação social trata eufemisticamente como Ministério de Saúde de Gaza. É o Hamas que fornece essa informação e ela não é credível. A questão é que a matança não é mera estatística. Estão a morrer demasiados civis, demasiadas crianças, e não é só em Gaza. Na Cisjordânia, desde do 7 de outubro, já morreu mais de uma centena de palestinianos, alguns deles por pura vingança de colonos israelitas que ocupam ilegalmente aquele território.
Desculpa, Israel, percebo perfeitamente o que sofre o teu povo, desde há séculos até ao massacre terrorista levado a cabo pelo Hamas, mas não assino por baixo a ideia de que esse sofrimento pode ser amenizado com o sofrimento de outros inocentes. Não percebo sequer como é possível justificar a asfixia a que estão a sujeitar dois milhões de pessoas em Gaza. Água a conta-gotas, alimentação às migalhas e um "jerry can" de combustível não é ajuda humanitária, é tortura.
Há demasiada violência na narrativa do governo israelita e dos seus embaixadores espalhados pelo mundo. Há até censura e perseguição a uma parte do seu próprio povo, aos que não aceitam calar a revolta por ver o seu país adotar a política do "olho por olho, dente por dente". A vingança, sabemo-lo bem, foi também o combustível do Hamas. E não, não se trata de relativizar o terror de 7 de outubro, nem encontrar qualquer justificação para o que não tem como ser justificado. É só para lembrar que atrás da morte vem a morte, perseguida pela morte dos que acham que é matando que se acaba com as mortes.