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É surpreendente, ou talvez não face aos dias de guerra que correm, a posição do PCP ao votar contra o discurso de Zelensky na Assembleia da República. A proposta foi feita pelo PAN e foi aprovada por maioria em conferência de líderes. O PCP está do contra.
Depois de, inicialmente, ter sido anunciado que a proposta em ter Zelensky a discursar no Parlamento por videoconferência tinha sido aprovada por unanimidade, não tardou em chegar a retificação. Afinal, foi só no fim da reunião que o partido comunista pediu que a sua oposição ficasse registada em ata.
Será que foi aplicada uma espécie de disciplina de voto soviética, pergunto? A justificação chegou pela voz da nova líder parlamentar, Paula Santos, segundo a qual o partido votou contra por considerar que "a Assembleia da República não deve contribuir para a escalada de confrontação". Na ótica do PCP, a proposta apresentada vai "no sentido oposto", daí ter votado contra.
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Paula Santos ainda acrescentou que "as intervenções de chefes de Estado na Assembleia da República, ao longo dos últimos anos, têm sido muito limitadas" e têm acontecido sempre no contexto de visitas institucionais ao país, algo que "neste caso concreto não ocorre". Ora, em cenário de guerra, parece que Zelensky não tem mesmo agenda para visitar Lisboa.
Diz ainda a voz comunista que "a solução para este conflito passa por avançar numa perspetiva de cessar-fogo, negociada e no cumprimento da Carta da ONU". Ora é precisamente tudo isso que não tem sido alcançado junto de Putin e não é por falta de empenho da comunidade internacional.
As declarações ímpares vão mais longe: "O partido já defendia a paz na Ucrânia desde 2014, muito antes de acontecer a invasão russa." Ora, terá o partido reparado que eclodiu uma invasão da Ucrânia pela Rússia e que o cenário mudou de 2014 para 2022?
Factos: o PCP é um partido histórico e tem sobrevivido quando tantos outros vão caindo pelo caminho em varias geografias, mas o PCP tem vindo a perder votos, muitos votos em Portugal. Nas presidenciais, nas autárquicas e nas legislativas foi sempre a perder. Posições e argumentos como estes são verdadeiros dois tiros nos dois pés.