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Rbatí de Rabat e Bidaouí de Casablanca, de "ad-Dar al-Bayda", Casa Branca ou, em rigor, Casa Casca-de-ovo, na referência à cor!
É verdade, um empresário bidaoui decidiu preencher esse vazio na oferta gastronómica das duas maiores cidades marroquinas. Trata-se também de preencher o vazio no estômago dos portugueses que por ali trabalham, que agora podem confortar as mágoas e a saudade num bitoque, numa francesinha, ou com cerveja nacional.
Sobre este assunto, já me tinha pronunciado no I Congresso Internacional do Observare - Universidade Autónoma de Lisboa, em novembro de 2011, onde apresentei comunicação intitulada "Investimento Político, Económico e Cultural de Portugal no Magrebe - Reparos e Sugestões", apresentando a realidade dos mercados não tradicionais para os empresários portugueses, professores, agentes culturais e até turistas que por aí vão circulando. Qual era o problema, ou antes, o que é que doía mais ao "lançado português" nesta África quase desconhecida? Não poder confortar o estômago com um rissol, um pastel de bacalhau, ou uma mini, redonda, gelada e bebida de um trago. Ora magrebinos, sobretudo marroquinos e portugueses são "exércitos que não marcham de barriga vazia", vulnerabilidade que abre duas janelas de oportunidade. A primeira, a de perceber que os corações de todos estes povos magrebinos, da Mauritânia à Líbia, se conquistam através do estômago. A segunda, em complemento da primeira, perceber que temos o(s) prato(s) certo(s) para, a partir da base irmos consolidando essa conquista pirâmide social acima, neste ambiente islâmico. Esqueçamos a bifana e o chouriço e concentremo-nos no bacalhau e na sardinha! Exactamente, a(s) Confraria(s) do Bacalhau que por esse Mundo Lusófono afora e não só, vão promovendo o lóbi português da forma mais confortável possível, comendo, bebendo, rindo e debatendo. Esta será a forma mais rápida de se ir mitigando os 200 a 300 anos de atraso que temos relativamente às influências espanhola e francesa neste Magrebe tão próximo física e culturalmente e tão longínquo, fruto do preconceito religioso e das prioridades lusófonas e atlânticas, que sempre caracterizaram a política externa portuguesa.
A assinalar este avanço interessante, num mercado próximo, que oferece agora outro conforto para quem lá trabalha, pelo menos em Rabat e Casablanca, mas todos os outros das outras cidades têm sempre que lá ir, nem que seja para almoçar com os amigos ou colegas de trabalho. Onde vão comer agora? Ao Dom Petiscos, pois claro!
A Acontecer / A Acompanhar
- 2 a 8 de Março, Festival do Cinema Israelita, Cinema City, Alvalade, Lisboa;
- 17 de Março, Cineteatro Louletano, Funún Taht, 21h. Integrado no XXIII Festival de Música Al-Mutamid.
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.
