Corpo do artigo
Passadas as eleições europeias, alguma atenção voltará a dirigir-se para assuntos de natureza económica. É de esperar que quem esteve no Governo ou o apoiou na Assembleia da República fale dos méritos destes últimos quatros anos e que a oposição só encontre aspetos negativos.
É, por isso, importante que criemos um sentido crítico enquanto assistimos a esse debate. Uma das áreas que antecipo venha a ser discutida é a do investimento, em particular o investimento público. Sem haver investimento, será complicado registar aumentos de produtividade que sustentam melhores salários. E esse investimento terá que surgir sobretudo no setor privado. Mas a existência de boas infraestruturas de comunicação, de circulação, física e digital, são importantes para que o investimento privado possa acontecer.
Um efeito benéfico de maior investimento público seria tornar mais rentável o investimento privado. Só que também pode suceder que o investimento público torne mais difícil esse investimento privado. Por exemplo, se uma grande obra pública leva a que fundos disponíveis sejam canalizados para as empresas privadas que nela trabalham, em lugar de serem usados noutros projetos de investimento no setor privado, então mais investimento público pode significar menos investimento privado.
Assim, quando se começar a falar de mais investimento público, é importante que se perceba se irá tomar mais fácil o investimento privado ou não. Saber se é investimento público com retorno positivo a prazo, ou se é apenas despesa pública sem ajudar, direta ou indiretamente, o objetivo de uma maior produtividade e, logo, de um melhor padrão de vida no futuro para a população residente em Portugal.
Devemos ter a exigência de saber não só o motivo de cada projeto de investimento público que seja apresentado mas também qual o retorno esperado e o que seria a utilização alternativa dessas verbas públicas.
Haverá normalmente sempre quem beneficie de um investimento público, por isso é preciso algo mais do que alguém beneficiar para escolher que projetos de investimento público fazem mais sentido.
Resumindo, vem aí, muito provavelmente, o tema do investimento público. Sejamos exigentes não apenas com saber onde se quer investir, mas também com saber como contribui cada projeto de investimento para uma melhor produtividade e para melhores níveis de vida. De preferência com apresentação de documentos escritos que permitam no futuro a sua análise, do projeto e dos resultados. Apresentar power point atrativos em conferências de imprensa não é substituto de uma justificação, técnica e política, completa para as opções que se defendam, seja no Governo, seja no apoio ao Governo, seja na oposição.