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Rui Rio não será candidato à liderança do PSD nem a primeiro-ministro. Depois da derrota nas urnas, a 30 de janeiro, o presidente disse que já não será útil ao partido. Começa agora, portanto, um novo ciclo no PSD já com o Conselho Nacional marcado para 19 de fevereiro e as eleições internas deverão ocorrer, segundo Rio, até final do primeiro semestre.
Há uma travessia do deserto para fazer e que vai durar quatro anos, por isso é mais importante do que nunca discutir primeiro que espaço político quer o PSD assumir no país, se mais ao centro (como defendeu Rio) ou se mais centro-direita. Só depois escolher quem se sentará no cadeirão da sede na São Caetano à Lapa.
Na corrida à sucessão, Salvador Malheiro não perdeu tempo e tentou a política do facto consumado ao lançar o nome de Luís Montenegro, o que não agradou a muitos barões do partido, até porque há outros candidatos com potencial e com muitos apoios, a começar por Paulo Rangel e sem esquecer Miguel Pinto Luz ou Jorge Moreira da Silva.
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Há tempo. Se há coisa que não falta agora ao PSD é tempo. E um debate interno profundo é necessário para que, no futuro, os cidadãos não olhem para o PSD como passaram a olhar para o CDS, como um "saco de gatos" (usando a expressão do centrista José Ribeiro e Castro, ontem em entrevista aqui na TSF e ao Diário de Notícias).
Para que o PSD, fundador da democracia, continue a ser considerado uma alternativa deve ter a capacidade de representar as pessoas e não apenas o público interno.
Os próximos quatro anos serão desafiantes. O PSD não poderá esquecer-se de que deve contribuir, como maior partido da oposição, de forma responsável e através da bancada parlamentar, para o devido escrutínio do exercício do poder executivo - e não deixar essa papel apenas ao Presidente da República, e depois ganhar músculo para enfrentar uma maioria absoluta socialista e toda uma bancada de direita nova, fresca, que sabe comunicar e vai fazer voz grossa. O Iniciativa Liberal e o Chega - partidos onde terão votado muitos dos sociais-democratas que fugiram do PSD - vão tentar ocupar todo o espaço e protagonismo na Assembleia da República. E o Partido Socialista, confortavelmente sentado na sua maioria absoluta, vai sorrir, acenar e liderar o país até 2026.