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Assinalando um ano de governo, António Costa foi entrevistado na SIC tendo como pano de fundo uma sondagem em que, pela primeira vez, tem nota negativa e em que o seu governo tem a pior avaliação desde que o estudo de opinião da ICS-ISCTE é feito para a SIC e o Expresso. Uma larga maioria dos inquiridos considera que a economia piorou e, por isso, acham que o Executivo está a governar mal ou muito mal.
Um chefe de governo com avaliação negativa, perante um cenário de crise prolongada, parece a coisa mais normal do mundo, mais difícil de entender é que o líder da oposição não descole. É fraco consolo que o PSD tenha agora as mesmas intenções de voto do PS, olhando para a direita e vendo o Chega com um crescimento exponencial. Era suposto que sete anos de governo socialista (os últimos três com pandemia, guerra e hiperinflação) abrissem o apetite aos eleitores por uma alternativa de sinal contrário, mas ela não se consolida. Como bem lembrou Marcelo, a maioria aritmética de Direita que aparece nas sondagens está longe de ser uma maioria política.
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Costa, agora rodeado por especialistas em marketing, governa para aguentar o momento. Faz uma travessia no deserto, sabendo que o único que vai de vento em popa (o Chega de André Ventura) atrapalha mais o seu adversário directo. A humildade com o chefe de governo se mostrou compreensivo com o povo que está zangado com ele porque vive mal é a de quem está a dizer ao povo que lhe perdoa se ele voltar a apoiar o PS quando, e se, a bonança chegar. Se há coisa que a sondagem lhe diz é que o trambolhão socialista não aproveita em nada ao PSD.
Não há razões para grandes festas na Lapa com uma sondagem que dá um empate 30-30. Olhando para os resultados das últimas legislativas e para o dia de hoje, o que vemos é que os socialistas caíram onze pontos e meio e os sociais-democratas só cresceram dois pontos. Quem está a ganhar é o Chega e a abstenção. É, agora, demasiado evidente que Luís Montenegro precisa de dar o passo seguinte, tem de antecipar a decisão de afastar em definitivo qualquer aliança com quem usa um discurso racista e xenófobo para se afirmar politicamente. Deixando que Ventura continue a afirmar-se como parte da alternativa, Montenegro está a fazer um favor ao PS e a António Costa.